CREIO NO ESPÍRITO SANTO

CREIO NO ESPÍRITO SANTO

 

A propósito do tema de hoje, Creio no Espírito Santo, lembrei-me de uma graça que ouvi contar há uns anos, e que tem a ver com a Sua presença na Igreja e em nós, claro.

Havia um pároco já de idade avançada numa determinada paróquia e percebia-se que o cansaço estava a tomar conta dele porque cada vez mais diminuía o número de fiéis na Missa Dominical.

O Bispo dessa Diocese, decidiu então dar-lhe o merecido descanso, e colocou no seu lugar um jovem sacerdote, cheio de genica e vontade de trabalhar.

Passado pouco tempo já a igreja estava cheia de fiéis na Missa Dominical.

Num Domingo o Bispo decidiu ir à paróquia fazer uma visita e reparou com agrado que a igreja estava cheia.

Já na sacristia, depois da Missa, reparou no olhar orgulhoso do novo pároco, por causa do número de pessoas presentes na Missa.

O Bispo decidiu então chamá-lo à razão e disse-lhe:

Senhor Padre, não se orgulhe muito, porque tudo isto é trabalho do Espírito Santo!

Ao que o jovem sacerdote respondeu, com um sorriso:

Pois, pois, mas o Espírito Santo já cá estava antes de eu cá chegar!

 

Esta graça, que não tem qualquer maldade, poderá servir-nos daqui a pouco para percebermos a acção do Espírito Santo em nós e na Igreja, mas por agora detenhamo-nos no tema que nos foi dado: Creio no Espírito Santo!

 

Muito melhor do que quaisquer palavras que eu diga, o Catecismo da Igreja Católica explica verdadeiramente e sem a mínima dúvida o que é crer no Espírito Santo.

 

685. Crer no Espírito é, professar que o Espírito Santo é uma das Pessoas da Santíssima Trindade, consubstancial ao Pai e ao Filho, «adorado e glorificado com o Pai e o Filho.»

 

Esta é uma verdade que todos conhecemos e repetimos todos os dias, sobretudo quando nos benzemos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

 

E no entanto o Espírito Santo parece-nos muitas vezes um “ilustre desconhecido”, se me permitem esta expressão.

 

Já não tanto como quando eu era novo, tempo em que por exemplo os protestantes criticavam os católicos por “desconhecerem” o Espírito Santo, ou como alguns deles diziam, O termos substituído pela Virgem Maria.

Talvez tivessem alguma razão, nesse tempo!

 

Obviamente que a Igreja, a Tradição, o seu Magistério, sempre falou e ensinou sobre o Espírito Santo e é conhecida, por exemplo, a Carta Encíclica do Papa Leão XIII, Divinum Illud Munus, sobre a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade.

 

No entanto, é o Papa João XXIII, que na Constituição Apostólica Humanae Salutis Convocatória do Concílio Ecuménico Vaticano II, vai tornar actual, perdoem-me a expressão, o Espírito Santo!

 

Cito:

«E digne-se o divino Espírito ouvir da maneira mais consoladora a oração que todos os dias sobe de todos os recantos da terra: "Renova em nossa época os prodígios, como em novo Pentecostes; e concede que a Igreja santa, reunida em unânime e instante oração junto a Maria, Mãe de Jesus, e guiada por Pedro, difunda o reino do divino Salvador, que é reino da verdade, de justiça, de amor e de paz. Assim seja"» Humanae Salutis

 

E fora ouvidas as palavras do Beato Papa, porque o Concílio Vaticano II veio trazer um novo folego à Igreja, na construção de uma Igreja mais próxima dos fiéis, de tal modo que fez surgir diversíssimos Movimentos e Obras, a maior parte fundados por leigos em companhia de

sacerdotes, numa diversidade rica de espiritualidade, em união e comunhão de Igreja, abarcando todos os sectores da sociedade humana à procura de Deus.

 

Com efeito o Espírito Santo não é de ontem, não é das primeiras comunidades cristãs, nem apenas dos primeiros Padres, o Espírito Santo é de ontem, de hoje e para sempre.

 

Sem Ele não há fé!

 

Atentemos no que nos diz o Catecismo da Igreja Católica, no item 683:

 

683. «Ninguém pode dizer "Jesus é o Senhor" a não ser pela acção do Espírito Santo» (1Cor 12, 3). «Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: "Abbá! Pai!'» (Gl 4, 6). Este conhecimento da fé só é possível no Espírito Santo. Para estar em contacto com Cristo, é preciso primeiro ter sido tocado pelo Espírito Santo. É Ele que nos precede e suscita em nós a fé. Em virtude do nosso Baptismo, primeiro sacramento da fé, a Vida, que tem a sua fonte no Pai e nos é oferecida no Filho, é-nos comunicada, íntima e pessoalmente, pelo Espírito Santo na Igreja:

 

E depois o Catecismo cita Santo Ireneu

 

O Baptismo «dá-nos a graça do novo nascimento em Deus Pai, por meio do Filho no Espírito Santo. Porque aqueles que têm o Espírito de Deus são conduzidos ao Verbo, isto é, ao Filho: mas o Filho apresenta-os ao Pai, e o Pai dá-lhes a incorruptibilidade. Portanto, sem o Espírito não é possível ver o Filho de Deus, e sem o Filho ninguém tem acesso ao Pai, porque o conhecimento do Pai é o Filho, e o conhecimento do Filho de Deus faz-se pelo Espírito Santo».

 

E ainda nesta citação, no item 684:

684. O Espírito Santo, pela sua graça, é o primeiro no despertar da nossa fé e na vida nova que consiste em conhecer o Pai e Aquele que Ele enviou, Jesus Cristo

 

Em palavras muito simples poderemos dizer que o Antigo Testamento nos revela o Pai, o Criador, e de forma mais velada, (passe a expressão), o Filho que há-de vir.

O Novo Testamento, sobretudo nos Evangelhos, manifesta o Filho, a Revelação do Deus que se quis dar a conhecer aos homens para sua salvação.

Nos Actos dos Apóstolos poderemos dizer que nos é revelado o Espírito Santo, prometido pelo Filho, que como o próprio Jesus Cristo nos diz, nos fará reconhecer a Verdade e guiará no caminho da salvação:

 

«Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender por agora. Quando Ele vier, o Espírito da Verdade, há-de guiar-vos para a Verdade completa. Ele não falará por si próprio, mas há-de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há-de vir.» Jo 16, 12-13

 

 

Mas é por vezes complicado para nós, “vermos” o Espírito Santo.

Porque o Pai é normalmente, humanamente representado como uma figura de homem de idade, com umas barbas, e tem esse nome que todos entendemos porque sempre toca as nossas vidas: Pai!

O Filho quis fazer-se igual a nós e portanto é apresentado pela figura humana em que quis encarnar, e fica-nos assim desse modo próximo e entendível, se assim podemos dizer.

Aliás a própria história dos homens fala d’Ele e há documentos para além das Escrituras Sagradas que atestam a Sua passagem no meio de nós.

 

Mas o Espírito Santo não tem forma, digamos assim, e por isso é representado normalmente por uma pomba, pelo fogo, pela água, etc., o que nos torna difícil o entendimento como uma Pessoa da Santíssima Trindade.

O termo espírito traduz o termo hebraico “Ruah” que significa sopro, vento, ar.

Algo que não se vê, mas se pode sentir.

 

Para além disso o Espírito Santo não fala de si próprio, mas faz-nos ouvir a Palavra do Pai, faz-nos conhecer Cristo, Palavra viva de Deus, mas nós não O ouvimos, embora Ele nos conduza no e ao entendimento da Palavra de Deus.

E por que Ele assim divinamente se apaga é que Jesus nos explica «que o mundo não O pode receber, porque não O vê nem O conhece», mas aqueles que crêem em Cristo, esses sim O conhecem, porque Ele está neles e neles habita.

 

Diz-nos o Catecismo que a Igreja é o lugar do nosso conhecimento do Espírito Santo:

 

— Nas Escrituras, que Ele inspirou:

— na Tradição, de que os Padres da Igreja são testemunhas sempre actuais;

— no Magistério da Igreja, que Ele assiste;

— na liturgia sacramental, através das suas palavras e dos seus símbolos, em que o Espírito Santo nos põe em comunhão com Cristo;

— na oração, em que Ele intercede por nós;

— nos carismas e ministérios, pelos quais a Igreja é edificada;

— nos sinais de vida apostólica e missionária;

— no testemunho dos santos, nos quais Ele manifesta a sua santidade e continua a obra da salvação.

 

Em todas estas citações, aqueles que crêem, reconhecem a presença do Espírito Santo, até porque se assim não fosse, nada do que foi citado teria o carácter da presença de Deus e seriam apenas coisas humanas, como tal falíveis e efémeras.

 

Citando novamente o Catecismo, encontramos nos textos sagrados várias designações para o Espírito Santo.

Assim, Jesus Cristo, em diversas passagens do Evangelho de São João, chama-Lhe o “Paráclito”, que quer dizer, traduzindo à letra, «aquele que está junto», «advogado».

O Catecismo diz-nos que Paráclito é vulgarmente traduzido por «Consolador» como na Primeira Carta de João 2, 1.

Jesus chama-Lhe ainda «o Espírito de verdade», em João 16,13

 

Para além do nome próprio Espírito Santo, largamente usado nos Actos dos Apóstolos, São Paulo chama-Lhe ainda:

Espírito da promessa (Gal 3, 14; Ef 1, 13)

Espírito de adopção (Rm 8, 15; Gal 4, 6)

Espírito de Cristo (Rm 8, 9)

Espírito do Senhor ( 2 Cor 3, 17)

Espírito de Deus (Rm 8, 9. 14; 15, 19; 1 Cor 6, 11; 7, 40),

e S. Pedro designa-o por

Espírito de glória (1 Pe 4, 14).

 

Já há um pouco percebemos que há várias representações para o Espírito Santo, como a pomba, o fogo, etc.

 

Servindo-nos sempre do Catecismo, descubramos então, resumidamente, os símbolos do Espírito Santo:

 

694. A água.

O simbolismo da água é significativo da acção do Espírito Santo no Baptismo, pois que, após a invocação do Espírito Santo, ela torna-se o sinal sacramental eficaz do novo nascimento.

 

695. A unção.

O simbolismo da unção com óleo é também significativo do Espírito Santo, a ponto de se tomar o seu sinónimo. Na iniciação cristã, ela é o sinal sacramental da Confirmação, que justamente nas Igrejas Orientais se chama «Crismação».

 

696. O fogo.

Enquanto a água significava o nascimento e a fecundidade da vida dada no Espírito Santo, o fogo simboliza a energia transformadora dos actos do Espírito Santo. É sob a forma de línguas,

«uma espécie de línguas de fogo», que o Espírito Santo repousa sobre os discípulos na manhã de Pentecostes e os enche de Si. A tradição espiritual reterá este simbolismo do fogo como um dos mais expressivos da acção do Espírito Santo. «Não apagueis o Espírito!» (1 Ts 5, 19).

(O fogo queima, purifica, para depois nascer a nova vida)

 

697. A nuvem e a luz.

Estes dois símbolos são inseparáveis nas manifestações do Espírito Santo. Desde as teofanias do Antigo Testamento, a nuvem, umas vezes escura, outras luminosa, revela o Deus vivo e salvador, velando a transcendência da sua glória.

Podemos ver isto mesmo, por exemplo, em Moisés no Monte Sinai, a marcha pelo deserto, na Anunciação, (a sua sombra que cobre Maria para que conceba e dê à luz), na Transfiguração, na Ascensão, etc.

 

698. O selo

é um símbolo próximo do da unção. Porque indica o efeito indelével da unção do Espírito Santo nos sacramentos do Baptismo, da Confirmação e da Ordem, a imagem do selo foi utilizada em certas tradições teológicas para exprimir o «carácter» indelével, impresso por estes três sacramentos, que não podem ser repetidos.

 

699. A mão.

É pela imposição das mãos que Jesus cura os doentes e abençoa as crianças. O mesmo farão os Apóstolos, em seu nome. Ainda mais: é pela imposição das mãos dos Apóstolos que o Espírito Santo é dado. Este sinal da efusão omnipotente do Espírito Santo, guarda-o a Igreja nas suas epicleses sacramentais.

 

700. O dedo.

«É pelo dedo de Deus que Jesus expulsa os demónios» Lc 11,20. Se a Lei de Deus foi escrita em tábuas de pedra «pelo dedo de Deus» (Ex 31, 18), a «carta de Cristo», entregue ao cuidado dos Apóstolos, «é escrita com o Espírito de Deus vivo: não em placas de pedra, mas em placas que são corações de carne» (2 Cor 3, 3). O hino «Veni Creator Spiritus» invoca o Espírito Santo como «Dedo da mão direita do Pai»

 

701. A pomba.

No final do dilúvio (cujo simbolismo tem a ver com o Baptismo), a pomba solta por Noé regressa com um ramo verde de oliveira no bico, sinal de que a terra é outra vez habitável. Quando Cristo sobe das águas do seu baptismo, o Espírito Santo, sob a forma duma pomba, desce e paira sobre Ele. O símbolo da pomba para significar o Espírito Santo é tradicional na iconografia cristã.

 

 

Regressemos ao conhecimento que podemos ter do envio do Espírito Santo.

 

O Pai envia o Filho, mas com Ele envia sempre e também o Espírito.

É uma missão conjunta, como nos ensina o Catecismo, em que o Filho e o Espírito Santo são distintos, mas inseparáveis.

«É Cristo quem aparece, Ele que é a imagem visível de Deus invisível; mas é o Espírito Santo quem O revela.» 689

E ainda:

«Toda a obra de Cristo é missão conjunta do Filho e do Espírito Santo.» 727

 

Em todas as manifestações de Cristo é o Espírito que O manifesta, desde a Sua concepção até à Sua glória.

 

O Filho glorificado, junto do Pai, envia então o Espírito Santo aos filhos adoptados pelo Pai no Corpo do Filho entregue por nós, para que esse Espírito de adopção nos una a Cristo para que n’Ele e com Ele vivamos.

 

O Espírito Santo está obviamente presente desde o princípio até à «plenitude dos tempos».

 

Lembro-me uma vez num grupo de oração, quando chegou ao momento de ler a Palavra de Deus e sobre ela fazer um ensinamento, alguém abriu a Bíblia numa passagem do Antigo Testamento.

Quando me preparava para falar fui interrompido por uma pessoa que me dizia não se poder falar sobre passagens do Antigo Testamento.

Fiquei espantado e perguntei porquê, tendo-me respondido de imediato que no Antigo Testamento não estava o Espírito Santo.

O mais delicadamente que me era possível expliquei que não só estava, como logo no 2º versículo da Bíblia afirmava que o Espírito de Deus se movia sobre a superfície das águas.

 

Na segunda descrição bíblica da criação do homem, em Gn 2, 7 podemos ler que Deus «lhe insuflou pelas narinas o sopro de vida.»

 

Ao longo de todo o Antigo Testamento percebemos permanentemente a acção do Espírito de Deus, desde Abraão, Moisés, os reis e o exílio, os profetas, a promessa do Messias.

 

São as nuvens, as brisas, os ventos, os trovões, os sinais que vão guiando o povo no caminho da terra prometida, bem como a Sua presença óbvia em todas as profecias.

 

É com certeza de todos conhecida a passagem do Livro de Ezequiel, 37, 1-14, a visão dos ossos ressequidos, que termina no seguinte versículo:

«Introduzirei em vós o meu espírito e vivereis; estabelecer-vos-ei na vossa terra. Então, reconhecereis que Eu, o SENHOR, falei e agi»

 

 

 

Já no no Novo Testamento deparamo-nos imediatamente com a figura de um homem enviado por Deus, para pregar o arrependimento, para preparar o caminho para a vinda do Senhor.

Este homem, João Baptista, é cheio do Espírito Santo, como nos diz o Evangelho de São Lucas 1, 15, quando o anjo anuncia a Zacarias o nascimento do seu filho, «será cheio do Espírito Santo já desde o ventre da sua mãe» e ainda no versículo 41 «Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.»

João Baptista cheio do Espírito Santo dá testemunho de Cristo, porque o próprio Espírito lho revela:

 

«Vi o Espírito que descia do céu como uma pomba e permanecia sobre Ele. E eu não o conhecia, mas quem me enviou a baptizar com água é que me disse: 'Aquele sobre quem vires descer o Espírito e poisar sobre Ele, é o que baptiza com o Espírito Santo'. Pois bem: eu vi e dou testemunho de que este é o Filho de Deus.» Jo 1, 32-34

 

Em Maria, permitam-me usar uma expressão muito humana, o Espírito Santo realiza a sua Obra Prima: É com e pelo Espírito Santo que a Virgem Maria concebe e dá á luz o Filho de Deus, como nos diz o Catecismo.

 

Maria, ela própria, foi preparada pelo Espírito Santo para ser a «cheia de graça», como reconhece o Anjo na Anunciação, aquela que foi concebida sem pecado, para ser a Mãe do Messias Salvador.

 

É cheia do Espírito Santo que Maria profere o Magnificat.

 

Já afirmámos anteriormente que «toda a obra de Cristo é missão conjunta do Filho e do Espírito Santo.»

 

Com efeito, e segundo os Evangelhos sinópticos, Jesus Cristo é concebido pelo Espírito Santo em Maria, é baptizado no Espírito Santo, pratica milagres e proclama o Reino de Deus na força do Espírito, entrega-se á morte redentora na cruz por intermédio do Espírito e ressuscita pelo Espírito vivificador, e por meio d’Ele, está presente no meio de nós.

 

Jesus ao longo da sua vida terrena, não revela plenamente o Espírito Santo, enquanto não for glorificado pela sua Morte e Ressurreição.

Mas sugere-o por diversas vezes e a diversos interlocutores, como a samaritana, Nicodemos, e aos Apóstolos quando lhes fala da oração em Lc 11, 13 e ainda em Mt 10, 19-20 sobre o testemunho que devem dar.

 

Depois, por 5 vezes, no Evangelho de São João, promete o envio do Espírito Santo, quando for glorificado pela Sua Morte e Ressurreição.

Como nos diz o Catecismo:

 

729. O Espírito da verdade, o outro Paráclito, será dado pelo Pai a pedido de Jesus; será enviado pelo Pai em nome de Jesus; Jesus O enviará de junto do Pai, porque do Pai procede. O Espírito Santo virá, nós O conheceremos, Ele ficará connosco para sempre, habitará connosco; há-de ensinar-nos tudo, há-de lembrar-nos tudo o que Cristo nos disse e dará testemunho d'Ele; conduzir-nos-á à verdade total e glorificará a Cristo.

 

Assim, após a sua Morte e Ressurreição, Jesus Cristo, dá, sopra o Espírito Santo sobre os discípulos, (Jo 20,22), e a partir dessa hora, como mais uma vez nos diz o Catecismo, «a missão de Cristo e do Espírito Santo torna-se a missão da Igreja: «Assim como o Pai me enviou, também Eu vos envio a vós.» (Jo 20, 21)

 

Sabemos o que se passou no dia de Pentecostes.

 

Os apóstolos, reunidos com Maria, encontravam-se fechados numa sala em oração quando de repente, como nos diz o Livro dos Actos dos Apóstolos, 2, 2-4:

«De repente, ressoou, vindo do céu, um som comparável ao de forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde eles se encontravam.

Viram então aparecer umas línguas, à maneira de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem.»

 

Revelou-se assim plenamente a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo.

 

Sabemos então que o Espírito Santo derramado naqueles homens os encheu de uma força, de uma coragem, que antes não tinham, e também da capacidade de proclamar a Verdade com as palavras que o Espírito Santo lhes ia inspirando

 

De tal forma assim era e o Espírito Santo se fazia presente, que naquele dia, segundo os Actos dos Apóstolos: «Os que aceitaram a sua palavra receberam o baptismo e, naquele dia, juntaram-se a eles cerca de três mil pessoas.»

 

Assim aqueles que abrem os seus corações e crêem no Deus que se revelou, pelo baptismo, formam, tornam-se Igreja, Corpo de Cristo e templo do Espírito Santo.

 

Como nos diz o Catecismo:

737. A missão de Cristo e do Espírito Santo completa-se na Igreja, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. Esta missão conjunta associa, doravante, os fiéis de Cristo à sua comunhão com o Pai no Espírito Santo: o Espírito prepara os homens e adianta-se-lhes com a sua graça para os atrair a Cristo. Manifesta-lhes o Senhor ressuscitado, lembra-lhes a sua Palavra e abre-lhes o espírito à inteligência da sua morte e da sua ressurreição. Torna-lhes presente o mistério de Cristo, principalmente na Eucaristia, com o fim de os reconciliar, de os pôr em comunhão com Deus, para os fazer dar «muito fruto».

 

E ainda:

739. Uma vez que o Espírito Santo é a unção de Cristo, é Cristo, a Cabeça do corpo, quem O derrama nos seus membros para os alimentar, os curar, os organizar nas suas mútuas funções, os vivificar, os enviar a dar testemunho, os associar à sua oferta ao Pai e à sua intercessão pelo mundo inteiro. É pelos sacramentos da Igreja que Cristo comunica aos membros do seu corpo o seu Espírito Santo e santificador.

 

O Espírito Santo não se esgota e por isso mesmo poderíamos falar, (não eu, mas todos), horas, dias seguidos que nunca esgotaríamos o tema.

 

Mas talvez seja bom, nestes momentos finais do nosso encontro, tentar dar algum testemunho, o meu testemunho pessoal, daquilo que o Espírito Santo opera em nós, quando a ele nos abrimos e deixamos, (umas vezes mais outras menos), que Ele nos ensine e conduza.

 

Muitos saberão que na minha vida vivi afastado de Deus e da Igreja cerca de 20 e tal anos, entre os 18/19 e os 44/45.

 

E este viver afastado de Deus e da Igreja, não foi só um afastamento da fé, mas também um afundar numa vida sem regras, sem moral, sem sentido.

Enfim um caminho certo para o abismo.

 

Houve um tempo em que por causa de umas discussões sobre a Igreja, (alguém que a contestava), eu tomei a defesa da mesma, pois curiosamente, ou talvez não, durante todo esse tempo, tentei sempre nunca dizer mal de Deus nem da Igreja, embora por vezes fizesse as minhas criticas.

Deus e a Igreja eram coisas, salvo seja, que não me interessavam.

 

Mas essas discussões acabaram por despertar em mim um desejo, uma vontade, de me aproximar de Deus, da Igreja.

 

Assim, quando não estava ninguém na igreja de Monte Real, eu ia sentar-me em frente do sacrário e conversava, perguntando se era verdade, se ali estava alguém, as minhas dificuldades, etc.,etc.

 

Ora o Espírito Santo não dorme e sabe aproveitar muito bem estas oportunidades, (desculpem a simplicidade da linguagem), porque «aqueles que procuram encontram».

 

E a primeira constatação que eu faço de que as palavras de Jesus são verdadeiras, «o Espírito Santo há-de recordar-vos tudo o que Eu vos disse», Jo 14, 26 é que muito rapidamente me comecei a lembrar de tudo quanto tinha aprendido de meus pais, da catequese, dos colégios católicos por onde tinha passado e de alguns retiros que tinha feito.

Foi para mim uma grande admiração, (naquele tempo, porque agora percebo o que aconteceu), como era possível lembrar-me com tanto pormenor da Doutrina, das orações e até da Liturgia.

 

Encontrei no Renovamento Carismático Católico, (um dos Movimentos da Igreja surgidos após o Concilio Vaticano II), uma espiritualidade muito aberta ao Espírito Santo, muito viva, e eu precisava mesmo de alguma coisa que me fizesse mexer, que me confrontasse, até porque sou um pouco impaciente.

 

Uma das coisas que ainda hoje me espanta, foi a enorme modificação das prioridades da minha vida.

Eu vivia para a sociedade, para ter o melhor, para vestir o melhor, para comer o melhor, para desfrutar o mais possível daquilo a que o mundo chama os prazeres da vida.

 

E devagar, o Espírito Santo é muito paciente, todas essas prioridades foram mudando, e essas coisas deixaram de ser importantes, para passar a ser muito mais importante eu conhecer-me a mim próprio e descobrir como poderia ser de Deus para os outros.

Não estou totalmente “curado”, diga-se, pois o caminho é de uma vida, mas vou-o caminhando sempre na confiança de que Ele nunca me abandona.

 

Outra coisa muito importante que constatei, é que Deus, o Espírito Santo não nos quer transformar em pessoa diferente do que somos, mas ao descobrirmos que precisamos mudar as nossas prioridades, percebermos que somos exactamente aquilo que eramos, com uma nova visão da vida, porque está iluminada por Deus.

 

E tanto assim é que nunca me afastei daqueles que eram meus amigos, alguns deles é que se afastaram de mim, não porque eu os chateasse com a religião, mas porque se calhar não se sentiam bem ao meu lado.

Mas outra das graças que o Espírito Santo derrama em nós, é a capacidade de percebermos como actuar nos gestos e nas palavras, nos diversos momentos a que somos chamados.

Por vezes com o silêncio, por vezes com palavras, por vezes com gestos e atitudes.

 

Quantos de nós já se admiraram porque alguém chegou ao pé de nós e nos agradeceu um gesto, uma palavra, dizendo que lhe fez muito bem, e nós nem sequer nos apercebemos disso, ou não demos qualquer importância a esse facto?

 

Tenho para mim, (e dou-o como provado), que muitas vezes o nosso testemunho silencioso, mas verdadeiro e coerente fala muito mais alto do que as nossas palavras, e quem nos leva a dar esse testemunho é sem dúvida o Espírito Santo, que sem nos forçar, serenamente nos conduz.

 

E a descoberta do perdão, de perdoar e pedir perdão?

É tão maravilhosa que é difícil de descrever, e quem coloca em nós essa capacidade é, mais uma vez, o Espírito Santo.

 

Conto-vos uma história verdadeira que se passou comigo.

 

Logo no início do meu reencontro com Deus, um dia em Monte Real, nas Termas, dei uma descompostura a um homem em que fui muito mal criado e rude.

Passado algum tempo, fui para a igreja à hora em que estava deserta, como sempre, para ter as minhas conversas com Deus.

Mas não conseguia falar, não conseguia estar, não conseguia sequer concentrar-me, porque em todo o momento apenas me vinha o pensamento que tinha de pedir perdão ao homem.

Ora isso para mim era muito difícil, tanto mais que em termos sociais, para mim naquele tempo, ele era menos do que eu, por favor entendam o que eu quero dizer, pois não penso hoje em dia assim.

O homem tinha uma loja perto da igreja e eu decidi ir lá pedir-lhe desculpa.

Cheio de uma força que eu não conhecia em mim, dirigi-me para a loja, mas quando lá cheguei, passei adiante e não entrei.

Voltei para trás e quando passei novamente à porta, tornei a não entrar.

Julgo que fiz isto três ou quatro vezes, até que, vencendo os meus preconceitos entrei

e pedi humildemente desculpa da minha má criação e rudeza.

O homem ficou sem palavras e eu senti dentro de mim uma alegria tão grande que não a consigo descrever.

Sei que voltei para a igreja para agradecer o momento extraordinário que Deus me tinha proporcionado.

 

Permitam-me ainda que vos fale do perdão a nós próprios, que o Espírito Santo nos mostra e conduz.

Quando comecei a tomar mais contacto com a realidade da vivência da fé, começou a ser muito difícil lidar com o meu passado.

Queria apaga-lo, queria ter a certeza de que Deus me perdoava e achava isso tão difícil, dado tudo o que tinha feito e vivido.

E essa dificuldade não me dava paz e era um tropeço na minha caminhada.

Pedi muitas vezes que me fosse concedida a graça de entender o perdão de Deus e me perdoar a mim próprio.

Um dia numa adoração ao Santíssimo, numa oração, (e a oração é presença do Espírito Santo, não o esqueçamos), sobreveio uma paz imensa e eu percebi uma coisa tão simples como esta: se Deus me perdoava na Confissão quem era eu para não me perdoar a mim próprio.

Depois ao longo do tempo o meu passado, passou da vergonha de o ter tido, para a aceitação do mesmo como um ensinamento para a minha vida e como testemunho, sobretudo aos jovens, de que uma vida daquelas é uma avida sem sentido e sem futuro.

 

Havia tanto mais para dizer mas deixo para o fim a extraordinária e sensível presença do Espírito Santo na Palavra de Deus e em nós quando a Ele nos abrimos para a ler e meditar.

 

Uma das experiências, (permitam-me que lhes chame experiências) mais tocantes da presença, da assistência do Espírito Santo nas nossas vidas, acontece quando lemos e meditamos a Palavra de Deus.

Com efeito, temos muitas vezes o hábito, quando abrimos a Bíblia em determinadas passagens que já conhecemos muito bem, de passarmos à frente, pensando que nada nos poderão dizer de novo.

 

Mas se lermos essas passagens de nós mais conhecidas, repetidamente, meditando, haverá pormenores que nos irão saltar à vista, ou melhor dizendo, ao coração, e se pedirmos ao Espírito Santo que nos dê o necessário discernimento, aparecerá a Palavra viva, que se fará vida e nos questionará em tantos procedimentos do nosso dia-a-dia.

Vamos assim descobrindo a riqueza da Palavra de Deus e percebendo que ela é viva e eficaz, porque foi inspirada pelo Espírito Santo e assim é Ele próprio que nos pode mostrar a sua riqueza e vida.

 

Um dia em que falava sobre este tema, há uns anos em Lisboa, o Espírito Santo quis “mostrar-me” um modo de exemplificar o que queria dizer, o que queria explicar.

 

Se estivermos uma exposição de pintura moderna, perante um daqueles quadros que “apenas” tem várias cores misturadas, e se intitule, por exemplo, “Senhora num banco de jardim”, é muito provável que não consigamos minimamente ver retratado o que o titulo “apregoa”.

Se chamarmos o pintor e ouvirmos as suas explicações é então muito possível que já consigamos distinguir o que ele quis “retratar”.

Pelos contornos das cores, pelos pormenores que ele nos vai mostrando, conseguiremos ver através dos seus olhos aquilo que ele quis retratar.

 

Assim se passa com a Palavra de Deus.

Muitas vezes não entendemos, não percebemos o que Ela nos quer dizer, e então é preciso chamar o Autor, o Espírito Santo, para que Ele nos ilumine e nos faça entender o que a Palavra, o que Deus nos quer dizer.

E, se cremos no Espírito Santo e a Ele nos abrimos, podemos confiar que Ele nos vai mostrar o que Deus nos quer dizer com aquela passagem, que nem sempre é o que desejamos ouvir, mas talvez um ensinamento, uma chamada de atenção para algo que temos de mudar nas nossas vidas.

 

Mas há uma grande diferença entre as duas situações.

Enquanto aquilo que está no quadro é imutável, ou seja representa aquilo que o pintor quis “retratar”, e apenas aquilo, e depois de percebermos isso, tudo está compreendido, a Palavra de Deus, iluminada pelo Espírito Santo é sempre nova, responde sempre de maneira diversa, conforme as necessidades das nossas vidas a que Deus quer responder, para nos guiar.

 

E aquilo que está no quadro é igual para todos os que o vejam, representa sempre o mesmo, mas a Palavra de Deus, na mesma passagem bíblica, pode ser diferente para cada um conforme a sua necessidade em cada momento.

 

Ou seja o quadro é “estático”, a Palavra de Deus é viva, porque o Espírito Santo a ilumina na sabedoria e no amor.

 

Para terminar gostaria de pedir aos sacerdotes presentes que numa breve oração, estendendo as suas mãos sobre nós, invocassem o Espírito Santo, para que Ele avive em nós a graça do Baptismo e da Confirmação.

 

AUTOR: Joaquim Mexia Alves 

BLOG DO AUTOR: www.queeaverdade.blogspot.pt