“São Miguel Arcanjo, valente defensor na batalha contra o inimigo, ajudai-nos na difícil luta que temos de enfrentar todos os dias. Fracas são as nossas forças, e vacilante é a nossa fé. Vós, porém, já participais da glória de Deus. Vinde em nosso auxílio, e combatei conosco. Amém!”
(Fonte: Quaresma de São Miguel Arcanjo 2020 – Ed. Paulus)
Desde quando quisemos nos tornar autossuficientes, nos tornarmos “como Deuses”, quando deixamos a nossa ambição alimentar a nossa inveja e acariciar a nossa vaidade, optamos por viver em um mundo de conflitos entre o que é o bem e o mau.
As tentações de satanás são mentirosas e homicidas desde o princípio. Elas estimulam, através da mentira, a nossa vaidade. Vaidade essa que, por medo de feri-la e da dor que isso nos causa, gera e cresce em nós a desconfiança de tudo, inclusive daqueles que nos são mais próximos e nos querem bem.
A serpente já aborda Eva com uma “mentirinha”, invertendo a percepção do que é dito, e deixando “em suspensão” a dúvida:
“É verdade que Deus vos disse: ‘Não comereis de nenhuma árvore do Jardim’?”.
(Gn 3, 1)
Deus não proibiu, desta forma, nossos primeiros pais de comer fruto de nenhuma árvore e Eva reconhece essa “mentirinha” e a corrige. Mas, em vez de cortar o mal pela raiz, ela continua dando atenção:
“Podemos comer do fruto das árvores do jardim, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: ‘Dele não comereis, nele não tocareis, senão morrereis’.” (Gn 3, 2-3).
Muito pelo contrário, Deus tudo nos deu e reservou de nós apenas uma árvore, para, talvez, testar a nossa fidelidade, ou seja, permitir que nós possamos amar, através da liberdade de acolher ou não a Sua Palavra. A morte, a morte eterna, acontece exatamente pela falta do amor. Deus, neste caso, nos dando a possibilidade de amar, está buscando nos preservar da morte.
“Eu vos dou, sobre a terra inteira, toda erva que dá semente e todas as árvores que produzirem fruto com sua semente, para que vos sirvam de alimento”. (Gn 1, 29).
A mentira é um veneno tão poderoso (e muitas vezes discreto), que somente o pouquinho do engodo abriu a janela para questionamentos perversos e escancarou as portas para a entrada de mentiras ainda piores, inclusive com aspectos de verdade ou com “meias verdades”.
“De modo algum morrereis. Pelo contrário, Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal”. (Gn 3, 4-5).
Primeiro a serpente contou uma “mentirinha”, que poderia facilmente se passar por um mero engano, um pequeno e inocente equívoco de quem desconhece o assunto, uma informação errada. Aberta a porta, ela contou uma grande e perigosa mentira, desmentindo a Palavra de Deus, e concluiu falando palavras verdadeiras temperadas com o veneno da mentira.
De fato, comer do fruto proibido abriria os olhos para o conhecimento do bem e do mal, mas esse conhecimento poderia ser nocivo (e foi nocivo) e fatalmente levar à morte (como de fato levou).
A morte veio não necessariamente por causa do fruto em si, mas por causa da FALTA DE FÉ em Deus, por desobedecer, por desconfiar de Deus por Ele ter ocultado o que despertaria em nós o vírus da curiosidade e da autossuficiência. Só Deus é autossuficiente, querer ser assim é querer se tornar como Deus. Poderia ter pensado: “Por que Deus não nos disse isso antes? Deve ser muito bom para Ele querer guardar só para Ele”. Ou seja, abrimos a porta para uma disputa com Deus por seu lugar soberano.
Quantas vezes pensamos igual em relação ao próximo, não é? Esse é o perigo de sempre, indistintamente, procurar olhar para o outro como se ele fosse nós mesmos (mesmo inconscientemente). Devemos fazer isso para as coisas boas, colocar no outro a nossa bondade. As coisas más, deixemos enterradas, ocultadas, guardemos para nós sem transferir para o próximo.
O remédio para esse mal São Paulo nos dá em sua Carta aos Efésios:
“Em todas as circunstâncias, empunhai o escudo da fé, com o qual podereis apagr todas as flechas incendiadas do Maligno” (Ef 6, 16).
Se Eva estivesse com o escudo da Fé em Deus, o dardo da mentira não teria atingido o seu coração. Bastaria pensar: “Deus disse isso, ponto final. Não darei ouvidos a quem contradisser a Sua Palavra”. Isso é ter fé. Acreditar no que não é visível aos nossos olhos e/ou entendível ao nosso entendimento.
Diz o mesmo São Paulo em sua Carta aos Hebreus:
“A fé é o fundamento daquilo que ainda se espera e prova de realidades que não se veem. Por ela, os antigos receberam um bom testemunho. Pela fé compreendemos que o universo foi organizado pela palavra de Deus, de sorte que as coisas visíveis provêm daquilo que não se vê. Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício melhor que o de Caim; graças a ela, recebeu o testemunho de ser justo, pois Deus atestou o valor de suas oferendas, e graças a ela, mesmo depois de morto, Abel ainda fala! Pela fé, Henoc foi arrebatado, sem passar pela morte; não mais foi encontrado porque Deus o arrebatou. Antes de ser arrebatado, porém, recebeu o testemunho de que foi agradável a Deus”. (Hb 1, 1-5).
Então, não sejamos como Tomé que só acreditou quando viu e tocou Jesus. Cristo veio para nos restaurar. Se Eva pecou pela falta de fé, Cristo veio e restaurou por meio de Tomé, deixando-o tocar em suas feridas, mas alertando para que não seja mais incrédulo:
“Por que me viste, creste? Felizes os que não viram e creram” (Jo 20, 29).
Aliás, é assim que se conclui o Evangelho de João, dizendo que FELIZES OS QUE NÃO PRECISARAM VER E CRERAM (depois disso, vem o chamado Epílogo). Podemos dizer que o fim dos ensinamentos é “CREIA, MESMO SEM VER, MESMO SEM ENTENDER”. Sejamos felizes por crermos sem precisar ter visto!
São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate e cobri-nos com o Escudo da Fé Contra as Mentiras do Maligno.