"TIRAI PROVEITO MAIS DE PEQUENOS SOFRIMENTOS DO QUE DE GRANDES"

"TIRAI PROVEITO MAIS DE PEQUENOS SOFRIMENTOS DO QUE DE GRANDES"
49.8) Tirai proveito mais de pequenos sofrimentos do que de grandes. O Senhor não
considera tanto o sofrimento em si mesmo, mas sim a maneira como se sofre. Sofrer muito, mas
sofrer mal, é sofrer como os condenados; sofrer muito e até corajosamente, mas por uma causa má, é sofrer como um mártir do demônio; sofrer pouco ou até muito, mas sofrer por Deus, é sofrer como os santos. 
 
Se é verdade que podemos escolher entre as cruzes, então deveremos optar, de modo particular, pelas menores e mais ocultas e que se apresentam ao lado de outras maiores e mais vistosas. Na realidade, é fácil para o orgulho humano pedir, procurar e até mesmo escolher e abraçar as grandes e vistosas cruzes; porém, escolher e carregar alegremente as cruzes pequenas e escondidas, só o poderá fazer aquele que for ajudado por uma grande graça e por uma grande fidelidade a Deus. 
 
Comportai-vos, pois, como o comerciante em relação a seu negócio: tirai proveito de tudo; não
deixeis perder, seja o que for, da verdadeira cruz, ainda que seja uma simples picada
de um mosquito ou de um alfinete, ou a indelicadeza de um vizinho, uma injúria insignificante, a
perda de alguns poucos vinténs, uma leve perturbação do espírito, um leve cansaço corporal ou uma pequena dor em algum dos vossos membros, etc. Assim como o merceeiro, no seu negócio, vai juntando no seu cofre dinheiro sobre dinheiro, assim vós, também, procurai tirar proveito de tudo e depressa vos tornareis ricos diante de Deus. Até mesmo diante das menores adversidades dizei: “Bendito seja Deus. Obrigado, Senhor”; depositai a cruz, acabada de aceitar, na memória de Deus que é, por assim dizer,
o vosso banco; e, se vos lembrardes dela, que seja para dizer apenas: Muito obrigado,
Senhor! Misericórdia!
 
Amai a cruz, não com amor sensível, mas racional e sobrenatural
 
50.9) Quando se vos diz que deveis amar a cruz, não se pretende referir a um amor
sensível. Isso é contra a natureza humana. Devereis, pois, distinguir três espécies de amor: o amor sensível, o amor racional, o amor fiel e supremo. Com outras palavras, o amor que procede da parte inferior e que é carnal; o amor que procede da parte superior e que é a razão; e o amor que está acima do espírito, ou amor supremo, e que é a inteligência, iluminada pela fé.
 
51. Deus não vos pede para amardes a cruz de maneira sensível. A vossa “vontade da
carne' na verdade, é inteiramente propensa ao mal e o que dela procede resulta manchado; daí
que não aceitará submeter-se, por vontade própria, à sua vontade divina e à lei, que não
dispensa a cruz.
 
Referindo-se a esta “vontade da carne”, Jesus, no Jardim das Oliveiras, exclamava:
“Pai, não se faça a minha, mas a tua vontade” !*"*, Ora, se a parte sensível da própria humanidade de Cristo, apesar de santa, não pôde amar de imediato a cruz, quanto mais não será tentada a rejeitá-la a nossa sensibilidade, que é toda corrupta. Talvez possamos, por vezes — a exemplo de muitos santos — saborear até o prazer sensível da cruz, mas esse prazer não procede dos sentidos, ainda que more no reino da sensibilidade; ele procede da parte mais nobre da alma que está tão repleta da felicidade do Espírito Santo que a faz transbordar para a parte sensível. E assim, até a pessoa mais crucificada poderá exclamar: “O meu coração e a minha carne exultam no Deus vivo”»,
 
52. Pode-se ainda amar a cruz com um outro amor, a que eu chamaria racional, pelo
fato de ter a sua sede na parte superior, ou seja, na razão. É um amor todo espiritual e que brota
da felicidade consciente de sofrer por Deus e que, portanto, é perceptível e a alma poderá captar,
recebendo no seu íntimo alegria e força. Este amor racional e perceptível, porém, ainda que bom ou até mesmo ótimo, nem sempre é necessário para se sofrer alegre e santamente.
 
53. Há ainda uma terceira maneira de amar a cruz: aquela da sumidade e do vértice da
alma — como referem os mestres da vida espiritual — ou da inteligência, como dizem os
filósofos. Por esta maneira sucede que, mesmo que não se saboreie nenhum prazer sensível ou mesmo que não se atinja nenhuma satisfação racional na alma, é, porém, possível, amar e saborear a própria cruz à luz da fé pura — muito embora suceda, com frequência, ficar tudo em guerra e em estado de alarme na parte sensível, que geme, que se lamenta, que chora e busca consolação, a ponto de exclamar com Jesus Cristo: “Pai, não se faça a minha, mas a tua vontade”; ou com a Santíssima Virgem: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. É com um destes dois amores da parte superior da alma que teremos de abraçar e amar a cruz.
49.8) Tirai proveito mais de pequenos sofrimentos do que de grandes. O Senhor não
considera tanto o sofrimento em si mesmo, mas sim a maneira como se sofre. Sofrer muito, mas
sofrer mal, é sofrer como os condenados; sofrer muito e até corajosamente, mas por uma causa má, é sofrer como um mártir do demônio; sofrer pouco ou até muito, mas sofrer por Deus, é sofrer como os santos. 
 
Se é verdade que podemos escolher entre as cruzes, então deveremos optar, de modo particular, pelas menores e mais ocultas e que se apresentam ao lado de outras maiores e mais vistosas. Na realidade, é fácil para o orgulho humano pedir, procurar e até mesmo escolher e abraçar as grandes e vistosas cruzes; porém, escolher e carregar alegremente as cruzes pequenas e escondidas, só o poderá fazer aquele que for ajudado por uma grande graça e por uma grande fidelidade a Deus. 
 
Comportai-vos, pois, como o comerciante em relação a seu negócio: tirai proveito de tudo; não
deixeis perder, seja o que for, da verdadeira cruz, ainda que seja uma simples picada
de um mosquito ou de um alfinete, ou a indelicadeza de um vizinho, uma injúria insignificante, a
perda de alguns poucos vinténs, uma leve perturbação do espírito, um leve cansaço corporal ou uma pequena dor em algum dos vossos membros, etc. Assim como o merceeiro, no seu negócio, vai juntando no seu cofre dinheiro sobre dinheiro, assim vós, também, procurai tirar proveito de tudo e depressa vos tornareis ricos diante de Deus. Até mesmo diante das menores adversidades dizei: “Bendito seja Deus. Obrigado, Senhor”; depositai a cruz, acabada de aceitar, na memória de Deus que é, por assim dizer,
o vosso banco; e, se vos lembrardes dela, que seja para dizer apenas: Muito obrigado,
Senhor! Misericórdia!
 
AMAI A CRUZ, NÃO COM AMOR SENSÍVEL, MAS RACIONAL E SOBRENATURAL
 
50.9) Quando se vos diz que deveis amar a cruz, não se pretende referir a um amor
sensível. Isso é contra a natureza humana. Devereis, pois, distinguir três espécies de amor: o amor sensível, o amor racional, o amor fiel e supremo. Com outras palavras, o amor que procede da parte inferior e que é carnal; o amor que procede da parte superior e que é a razão; e o amor que está acima do espírito, ou amor supremo, e que é a inteligência, iluminada pela fé.
 
51. Deus não vos pede para amardes a cruz de maneira sensível. A vossa “vontade da
carne' na verdade, é inteiramente propensa ao mal e o que dela procede resulta manchado; daí
que não aceitará submeter-se, por vontade própria, à sua vontade divina e à lei, que não
dispensa a cruz.
 
Referindo-se a esta “vontade da carne”, Jesus, no Jardim das Oliveiras, exclamava:
“Pai, não se faça a minha, mas a tua vontade” !*"*, Ora, se a parte sensível da própria humanidade de Cristo, apesar de santa, não pôde amar de imediato a cruz, quanto mais não será tentada a rejeitá-la a nossa sensibilidade, que é toda corrupta. Talvez possamos, por vezes — a exemplo de muitos santos — saborear até o prazer sensível da cruz, mas esse prazer não procede dos sentidos, ainda que more no reino da sensibilidade; ele procede da parte mais nobre da alma que está tão repleta da felicidade do Espírito Santo que a faz transbordar para a parte sensível. E assim, até a pessoa mais crucificada poderá exclamar: “O meu coração e a minha carne exultam no Deus vivo”»,
 
52. Pode-se ainda amar a cruz com um outro amor, a que eu chamaria racional, pelo
fato de ter a sua sede na parte superior, ou seja, na razão. É um amor todo espiritual e que brota
da felicidade consciente de sofrer por Deus e que, portanto, é perceptível e a alma poderá captar,
recebendo no seu íntimo alegria e força. Este amor racional e perceptível, porém, ainda que bom ou até mesmo ótimo, nem sempre é necessário para se sofrer alegre e santamente.
 
53. Há ainda uma terceira maneira de amar a cruz: aquela da sumidade e do vértice da
alma — como referem os mestres da vida espiritual — ou da inteligência, como dizem os
filósofos. Por esta maneira sucede que, mesmo que não se saboreie nenhum prazer sensível ou mesmo que não se atinja nenhuma satisfação racional na alma, é, porém, possível, amar e saborear a própria cruz à luz da fé pura — muito embora suceda, com frequência, ficar tudo em guerra e em estado de alarme na parte sensível, que geme, que se lamenta, que chora e busca consolação, a ponto de exclamar com Jesus Cristo: “Pai, não se faça a minha, mas a tua vontade”; ou com a Santíssima Virgem: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. É com um destes dois amores da parte superior da alma que teremos de abraçar e amar a cruz.