CAMINHO DE PERFEIÇÃO

S. Teresa de Jesus Livro chamado Caminho de Perfeição, composto por Teresa de Jesus, freira da Ordem de Nossa Senhora do Carmo. Vai dirigido às freiras descalças de Nossa Senhora do Carmo da Primeira Regra.

Este livro trata de avisos e conselhos que Teresa de Jesus dá às Religiosas, irmãs e filhas suas, dos mosteiros que, com o favor de Nosso Senhor e da gloriosa Virgem Mãe de Deus, Senhora Nossa, tem fundado da Regra Primitiva de Nossa Senhora do Carmo. Dirigese em especial às Irmãs do Mosteiro de S. José de Ávila, que foi o primeiro e em que era prioresa quando o escreveu. Em tudo o que nele disser, me sujeito ao que me ensina a Santa Madre Igreja Romana e, se alguma coisa for contrária a isto, é por não o entender. E assim, aos letrados que o hão-de ver, peço, por amor de Nosso Senhor, que o vejam muito particularmente e o corrijam, se alguma falta nisto houver, e outras muitas que terá noutras coisas. Se nele houver alguma coisa boa, seja para glória e honra de Deus e serviço de Sua Sacratíssima Mãe, Padroeira e Senhora Nossa, cujo hábito eu trago, ainda que muito indigna dele?

 

1. Sabendo as irmãs deste Mosteiro de S. José que eu tinha licença do Padre Presentado Frei Domingo Bánes, da Ordem do glorioso S. Domingos, que presentemente é meu confessor, para escrever algumas coisas de oração, em que parece que poderei atinar por ter tratado com muitas pessoas espirituais e santas, têm-me importunado tanto para que lhes diga alguma coisa sobre ela, que me determinei a obedecer-lhes, vendo que o grande amor que me têm pode fazer-lhes mais aceite o mau estilo e imperfeito daquilo que eu disser, do que alguns livros muito bem escritos por quem sabia o que escreveu. E confio nas suas orações, pois poderá ser que, por elas, o Senhor seja servido que eu acerte em dizer alguma coisa do mais conveniente ao modo de viver que temos nesta casa. E, se for pouco acertado, o Padre Presentado, que há-de ser o primeiro a ver isto, o remediará ou queimará, e eu nada terei perdido obedecendo a estas servas de Deus, e elas verão o que eu posso por mim mesma quando Sua Majestade não me ajuda.

 

2. Penso dar aqui alguns auxílios para umas pequenas tentações que o demónio nos apresenta que, - por serem tão diminutas -, talvez não se faça caso delas. Direi ainda outras coisas, conforme o Senhor me der a entender e eu me for lembrando, porque, como não sei o que irei dizer, não posso dizê-lo com concerto. Creio mesmo que melhor será não o ter, pois é já coisa bem desconcertada eu escrever isto. O Senhor ponha a Sua mão em tudo o que eu fizer, para que vá conforme à Sua santa vontade; estes são sempre os meus desejos, ainda que as obras sejam tão falhas como eu sou.

 

3. Sei que não me falta amor e desejo de ajudar naquilo que puder, para que as almas das minhas irmãs vão muito adiante no serviço do Senhor. Este amor, junto com os anos e a experiência que tenho de alguns conventos, poderá ser que sirva para eu atinar, mais do que os letrados, em coisas pequenas. Por terem eles outras ocupações mais importantes e serem varões fortes, não fazem tanto caso de coisas que em si não parecem nada, e a nós, mulheres, como somos tão fracas, tudo nos pode causar dano; porque as subtilezas do demónio são muitas para as que vivem muito encerradas, porque vê que precisa de armas novas para lhes fazer mal. Eu, como sou ruim, tenho-me sabido defender mal, e assim quereria que minhas irmãs escarmentassem em mim. Não direi coisa de que não tenha experiência, por a ter visto em mim ou em outras.

 

4. Há poucos dias mandaram-me escrever certa relação da minha vida, onde tratei algumas coisas de oração. Mas poderá ser que o meu confessor não queira a vejais e, por isso, direi aqui algumas coisas das que ali disse e outras que também me parecem necessárias. O Senhor o ponha por Sua mão, como Lhe tenho suplicado, e o ordene para Sua maior glória, amen.

Capitulos 1 a 10

CAPÍTULO 1. DA CAUSA QUE ME MOVEU A FAZER ESTE CONVENTO COM TANTA ESTREITEZA.

  1. No princípio da fundação deste mosteiro (pelos motivos referidos no livro que escrevi e onde referi algumas grandezas do Senhor, em que Ele deu a entender o muito que seria servido nesta casa), não era minha intenção que houvesse tanto rigor no exterior, nem que fosse sem renda; antes...

CAPÍTULO 2. TRATA COMO SE HÃO-DE DESCUIDAR DAS NECESSIDADES CORPORAIS, E DO BEM QUE HÁ NA POBREZA.

  1. Não penseis, minhas irmãs, que, por não andar a contentar os do mundo, vos há-de faltar de comer; isto vos asseguro. Jamais, por artifícios humanos, pretendais sustentar-vos, porque morrereis de fome, e com razão. Ponde os olhos em vosso Esposo; Ele vos há-de sustentar. Contente Ele,...

CAPÍTULO 3. PROSSEGUE NO ASSUNTO QUE COMEÇOU A TRATAR E PERSUADE AS IRMÃS A QUE SE OCUPEM SEMPRE EM SUPLICAR A DEUS QUE FAVOREÇA OS QUE TRABALHAM PELA IGREJA. TERMINA COM UMA EXCLAMAÇÃO.

  1. Voltando ao fim principal para que o Senhor nos juntou nesta casa, e pelo que muito desejo sejamos alguma coisa para contentarmos a Sua Majestade, digo que, vendo tão grandes males, que forças humanas não bastam para atalhar o fogo destes hereges, embora se tenha pretendido reunir gente,...

CAPÍTULO 4. EM QUE PERSUADE A QUE SE GUARDE A REGRA, E TRÊS COISAS IMPORTANTES PARA A VIDA ESPIRITUAL. DECLARA A PRIMEIRA DESTAS COISAS, QUE É O AMOR DO PRÓXIMO E O DANO QUE CAUSAM AS AMIZADES PARTICULARES.

    1. Já vistes, filhas, a grande empresa que pretendemos ganhar. Que tais havemos de ser para que, aos olhos de Deus e do mundo, não nos tenham por muito atrevidas? Está claro que temos necessidade de trabalhar muito, e ajuda muito ter altos pensamentos para nos esforçarmos a que o...

CAPÍTULO 5. PROSSEGUE ACERCA DOS CONFESSORES. DIZ O QUE IMPORTA QUE SEJAM LETRADOS.

  1. Não dê o Senhor, por Quem Sua Majestade é, a provar a ninguém desta casa o trabalho que fica dito, de se verem oprimidas na alma e no corpo; se a prelada se dá bem com o confessor, nem a ele dela, nem a ela dele, ousam dizer nada. Aqui sobrevirá a tentação de deixar de confessar pecados...

CAPÍTULO 6. VOLTA À MATÉRIA QUE COMEÇOU: O PERFEITO AMOR.

  1. Muito me desviei; mas importa tanto o que fica dito, que não me culpará quem o entender. Voltemos agora ao amor que é bom e lícito que nos tenhamos: aquele que digo ser puramente espiritual. Não sei se sei o que digo, pelo menos, parece-me não ser preciso falar muito dele, porque poucos o...

CAPÍTULO 7. TRATA DO MESMO ASSUNTO DO AMOR ESPIRITUAL E DÁ ALGUNS AVISOS PARA O ALCANÇAR.

  1. É coisa estranha quão apaixonado amor é este; quantas lágrimas custa; quantas penitências e oração; como se preocupa por pedir a todos os que pensam lhe hão-de aproveitar com Deus para que Lhe encomendem essa alma que ama; que desejo contínuo; não sente alegria se não a vê aproveitar. Se,...

CAPÍTULO 8. TRATA DO GRANDE BEM QUE É O DESPRENDIMENTO INTERIOR E EXTERIOR DE TODAS AS COISAS.

  1. Agora vamos ao desprendimento que devemos ter, pois tudo está nisto se for com perfeição. Digo que aqui está tudo, porque, abraçando-nos só com o Criador e não se nos dando nada de todas as coisas, Sua Majestade infunde as virtudes de maneira que, trabalhando nós a pouco e pouco o que...

CAPÍTULO 9. TRATA DO GRANDE BEM QUE HÁ EM FUGIR DOS PARENTES OS QUE DEIXARAM O MUNDO, E DE QUANTOS MAIS VERDADEIROS AMIGOS ENCONTRAM.

    1. Oh! se entendêssemos, nós as religiosas, o dano que nos vem de tratar muito com parentes, como fugiríamos deles! Eu não entendo que consolação é esta que dão, mesmo pondo de parte o que a Deus pertence, mas somente para o nosso sossego e descanso, pois da sua recreação não podemos...

CAPÍTULO 10. TRATA DE COMO NÃO BASTA DESPRENDER-SE DO QUE FICA DITO, MAS SIM DE NÓS MESMAS, E DE COMO ANDA JUNTA ESTA VIRTUDE COM A HUMILDADE.

  1. Desprendendo-nos do mundo e dos parentes e encerradas aqui nas condições que estão ditas, parece que já temos tudo feito e que não há que pelejar com ninguém. Ó minhas irmãs, não vos tenhais por seguras, nem vos deiteis a dormir, pois acontecer-vos-á como àquele que se deita muito...

Capitulos 11 a 20

CAPÍTULO 11. PROSSEGUE NA MORTIFICAÇÃO E DIZ A QUE SE HÁ-DE ADQUIRIR NAS ENFERMIDADES.

  1. Parece coisa imperfeita, minhas irmãs, este queixarmo-nos sempre de males leves; se podeis sofrê-lo, não o façais. Quando é grave o mal, ele por si mesmo se queixa; é outro queixume e logo se dá a conhecer. Olhai que sois poucas e, se uma tem este costume, é bastante para cansar a todas,...

CAPÍTULO 12. TRATA COMO HÁ-DE TER EM POUCO A VIDA E A HONRA O VERDADEIRO AMADOR DE DEUS.

  1. Vamos a outras coisas que também importam muito, ainda que pareçam diminutas. Trabalho grande parece tudo, e com razão, porque é guerra contra nós mesmos; mas, começando-se a trabalhar, opera Deus tanto na alma e faz-lhe tantas mercês, que tudo lhe parece pouco quanto se possa fazer nesta...

CAPÍTULO 13. PROSSEGUE NA MESMA MATÉRIA DA MORTIFICAÇÃO E COMO SE HÁ-DE FUGIR DOS PONTOS DE HONRA E DAS RAZÕES DO MUNDO PARA CHEGAR À VERDADEIRA RAZÃO.

  1. Muitas vezes vo-lo digo, irmãs, e agora quero-o deixar aqui escrito, para que não vos esqueçais de que, nesta casa, e até mesmo toda a pessoa que quiser ser perfeita, fuja a mil léguas de: «tive razão», «fizeram-mo sem razão», «não teve razão quem isto fez comigo»... De más razões...

CAPÍTULO 14. TRATA DO MUITO QUE IMPORTA NÃO DAR A PROFISSÃO A NENHUMA CUJO ESPÍRITO VÁ CONTRA AS COISAS QUE FICAM DITAS.

  1. Creio bem que o Senhor favorece muito a quem bem se determina e, por isso, se há-de ver que intenção tem a que entra; não seja só para se remediar (como acontecerá a muitas), posto que o Senhor pode aperfeiçoar este intento se é pessoa de bom entendimento, porque, se não o é, de nenhuma...

CAPÍTULO 15. TRATA DO GRANDE BEM QUE HÁ EM NÃO SE DESCULPAR, AINDA QUE SE VEJAM CONDENAR SEM CULPA.

  1. Grande confusão me faz o que vos vou persuadir, porque deveria ter praticado, pelo menos alguma coisa do que vos digo nesta virtude; é assim que eu confesso ter aproveitado muito pouco. Nunca, ao que me parece, me falta motivo para me parecer maior virtude o desculpar-me. Como algumas...

CAPÍTULO 16. DA DIFERENÇA QUE DEVE HAVER ENTRE A PERFEIÇÃO DA VIDA DOS CONTEMPLATIVOS E DOS QUE SE CONTENTAM COM ORAÇÃO MENTAL, E COMO É POSSÍVEL ALGUMAS VEZES DEUS SUBIR UMA ALMA DISTRAÍDA À PERFEITA CONTEMPLAÇÃO E A CAUSA DISTO. É MUITO DE TER EM CONTA

  1. E não vos pareça muito tudo isto, pois vou entabulando o jogo, como dizem. Pedistes-me que vos dissesse os princípios da oração; e eu, filhas, ainda que Deus não me levou por este princípio, porque nem mesmo o devo ter destas virtudes, não sei outro. Pois crede que, quem não sabe colocar...

CAPÍTULO 17. DE COMO NEM TODAS AS ALMAS SÃO PARA A CONTEMPLAÇÃO E COMO ALGUMAS CHEGAM ELA TARDE E QUE O VERDADEIRO HUMILDE HÁ-DE IR CONTENTE PELO CAMINHO POR ONDE LEVAR O SENHOR.

  1. Parece que vou entrando na oração, mas falta-me um pouco por dizer que importa muito, porque é da humildade e é necessário nesta casa; porque é o exercício principal da oração e, como disse, importa muito qu trateis de entender como exercitar-vos na humildade. E este é um pont muito...

CAPÍTULO 18. PROSSEGUE NA MESMA MATÉRIA E DIZ QUANTO MAIORES SÃO OS TRABALHOS DOS CONTEMPLATIVOS DO QUE OS DOS ACTIVOS. É DE GRANDE CONSOLAÇÃO PARA ELES.

1. Pois eu vos digo, filhas, àquelas a quem Deus não leva por este caminho de contemplação, ao que tenho visto e entendido dos que vão por ele, que não levam cruz mais leve e vos admiraríeis das vias e modos pelas quais Deus lhas dá. Eu sei de uns e de outros, e sei claramente que são intoleráveis...

CAPÍTULO 19. COMEÇA A TRATAR DA ORAÇÃO. FALA COM ALMAS QUE NÃO PODEM DISCORRER COM O ENTENDIMENTO.

  1. Há tantos dias que escrevi o que fica para trás, sem ter tido lugar para voltar a isto, que, se não o torno a ler, não sei o que dizia. Para não ocupar tempo, terá de ir como sair, sem concerto. Para entendimentos bem ordenados e almas exercitadas e que podem recolher-se em si mesmas, há...

CAPÍTULO 20. TRATA DE COMO, POR DIFERENTES VIAS, NUNCA FALTA CONSOLAÇÃO NO CAMINHO DA ORAÇÃO, E ACONSELHA AS IRMÃS A QUE DISTO SEJAM SEMPRE AS SUAS PRÁTICAS E CONVERSAÇÕES.

  1. Parece que me contradigo, neste último capítulo, daquilo que tinha dito; porque, quando consolava as que não chegavam aqui, disse que o Senhor tinha diferentes caminhos por onde levava as almas até Ele, assim como havia muitas moradas. Assim torno-o agora a dizer; porque Sua Majestade...

Capitulos 21 a 30

CAPÍTULO 21. DIZ O MUITO QUE IMPORTA COMEÇAR COM GRANDE DETERMINAÇÃO A TER ORAÇÃO E NÃO FAZER CARO DOS INCONVENIENTES QUE O DEMÓNIO SUGERE.

  1. Não vos espanteis, filhas, das muitas coisas a que é preciso olhar para começar esta viagem divina, que é caminho real para o Céu. Ganha-se, indo por ele, um grande tesouro; não é, pois, demasiado que custe muito, a nosso parecer. Tempo virá em que se entenda como tudo é nada para tão...

CAPÍTULO 22. DECLARA O QUE É ORAÇÃO MENTAL.

  1. Sabeis, filhas, que não está a diferença, para ser ou não ser oração mental, em ter a boca fechada; se, estando a falar, estou perfeitamente a entender e a ver que falo com Deus, pondo nisto mais advertência do que às palavras que digo, juntas estão aqui oração mental e vocal. Salvo se...

CAPÍTULO 23. TRATA DE QUANTO IMPORTA NÃO VOLTAR ATRÁS QUEM COMEÇOU O CAMINHO DA ORAÇÃO E VOLTA A FALAR DO MUITO QUE IMPORTA QUE SEJA COM DETERMINAÇÃO.

  1. Pois digo que vai muitíssimo em se começar com uma grande determinação, e isto por tantas causas, que seria preciso alongar-me muito se as dissesse. Só duas ou três vos quero dizer, irmãs. Uma é que não é razão ou justo que não demos a quem tanto nos tem dado e continuamente dá, uma coisa...

CAPÍTULO 24. TRATA DE COMO SE HÁ-DE REZAR COM PERFEIÇÃO A ORAÇÃO VOCAL E QUÃO JUNTA ANDA ESTA COM A MENTAL.

  1. Voltemos, pois, agora a falar com as almas que eu disse não se poderem recolher, nem prender o entendimento em oração mental, nem fazer considerações. Não mencionaremos aqui estas duas coisas, pois isto não é para vós; mas há, de facto, muitas pessoas a quem só o nome de oração mental ou...

CAPÍTULO 25. DIZ O MUITO QUE GANHA UMA ALMA QUE REZA VOCALMENTE COM PERFEIÇÃO E COMO ACONTECE DEUS ELEVÁ-LA DISTO A COISAS SOBRENATURAIS.

  1. E, para que não penseis que se tira pouco lucro em rezar vocalmente com perfeição, digo-vos que é muito possível, estando a rezar o Pai Nosso, ou rezando outra oração vocal, que o Senhor vos ponha em contemplação perfeita. Por estas vias mostra Sua Majestade que ouve a quem Lhe fala e até...

CAPÍTULO 26. VAI DECLARANDO O MODO DE RECOLHER O PENSAMENTO. DÁ MEIOS PARA ISSO. ESTE CAPÍTULO É MUITO PROVEITOSO PARA OS QUE COMEÇAM A TER ORAÇÃO.

  1. Voltemos, pois, agora à nossa oração vocal para que se reze de modo que, sem entendermos como, Deus nos dê tudo junto, e - como tenho dito - para se rezar como é de razão. O exame de consciência, dizer a confissão e persignar-se, já se sabe que há-de ser a primeira coisa. Procurai logo,...

CAPÍTULO 27. TRATA DO GRANDE AMOR QUE O SENHOR NOS MOSTROU NAS PRIMEIRAS PALAVRAS DO «PAI NOSSO», E O MUITO QUE IMPORTA NÃO FAZER NENHUM CASO DA NOBREZA DE LINHAGEM AS QUE DEVERAS QUEREM SER FILHAS DE DEUS.

  1. «Pai Nosso, que estais nos Céus». Oh! Senhor meu, como pareceis Pai de tal Filho e como o Vosso Filho parece filho de tal Pai! Bendito sejais para todo o sempre! No fim da oração, não seria já tão grande, Senhor, esta mercê? Mas logo, em começando, nos encheis as mãos e fazeis tão grande...

CAPÍTULO 28. DECLARA O QUE É ORAÇÃO DE RECOLHIMENTO E DÁ ALGUNS MEIOS PARA SE ACOSTUMAREM A ELA.

  1. Agora vede o que diz o vosso Mestre: «Que estais no Céu». Pensais que importa pouco saberdes que coisa é o Céu e onde se deve procurar vosso Sacratíssimo Pai? Pois eu digo-vos que, para entendimentos distraídos, importa muito, não só crer nisto, mas procurar entendê-lo por experiência,...

CAPÍTULO 29. PROSSEGUE DIZENDO OS MEIOS A EMPREGAR PARA PROCURAR ESTA ORAÇÃO DE RECOLHI MENTO. DIZ O POUCO EM QUE SE HÁ-DE TER O SER FAVORECIDAS PELOS PRELADOS.

  1. Fugi, filhas, por amor de Deus, de fazerdes caso destes favores dt prelados. Procure cada uma fazer o que deve e, se o prelado não lho agra decer, segura pode estar que lho pagará e agradecerá o Senhor. Sim; não viemos aqui a buscar prémio nesta vida. Sempre o pensamento no que per, dura,...

CAPÍTULO 30. DIZ QUANTO IMPORTA ENTENDER O QUE SE PEDE NA ORAÇÃO. TRATA DESTAS PALAVRAS DO «PATER NOSTER»: «SANTIFICETUR NOMEN TUUM, ADVENIAT REGNUM TUUM». APLICA-AS À ORAÇÃO DE QUIETUDE E COMEÇA A EXPLICÁ-LA.

  1. Quem haverá, por disparatado que seja, que, quando pede alguma coisa a uma pessoa de respeito, não leve já pensado como lhe há-de pedir para que a contente e não lhe seja molesto, e o que lhe vai pedir, e para que necessita o que lhe há-de dar, especialmente se pede coisa assinalada, como...

Capitulos 31 a 40

CAPÍTULO 31. PROSSEGUE NA MESMA MATÉRIA. DECLARA O QUE É ORAÇÃO DE QUIETUDE. DÁ ALGUM AVISOS PARA OS QUE A TÊM. É MUITO PARA NOTAR.

  1. Quero todavia, filhas, declarar - tal como o tenho ouvido dizer, ou c Senhor tem querido dar-mo a entender e porventura para que vo-lo diga esta oração de quietude, onde, me parece a mim, o Senhor começa, como já disse, a dar a entender que ouve a nossa petição, e começa, já aqui neste...

CAPÍTULO 32. TRATA DESTAS PALAVRAS DO PAI NOSSO: «FIAT VOLUNTAS TUA SICUT IN COELO ET IN TERRA», E O MUITO QUE FAZ QUEM DIZ ESTAS PALAVRAS COM TODA A DETERMINAÇÃO, E COMO O SENHOR LHO PAGA BEM.

  1. Agora que o nosso bom Mestre pediu por nós e nos ensinou a pedir coisa de tanto valor, que encerra em si todas as coisas que cá podemos desejar, e nos fez tão grande mercê como a de nos fazer irmãos Seus, vejamos o que Ele quer que demos a Seu Pai e o que Lhe oferece em nosso nome e o que...

CAPÍTULO 33. TRATA DA GRANDE NECESSIDADE QUE TEMOS DE QUE O SENHOR NOS DÊ O QUE PEDIMOS NESTAS PALAVRAS DE PATER NOSTER: «PANEM NOSTRUM QUOTIDIANUM DA NOBIS HODIE».

  1. Pois, entendendo o bom Jesus, como já disse, que difícil coisa era esta a que Ele oferece por nós, pois conhece a nossa fraqueza, e que muitas vezes damos a entender que não entendemos qual é a vontade do Senhor, - como somos fracos e Ele tão piedoso -, viu que era mister dar remédio,...

CAPÍTULO 34. PROSSEGUE NA MESMA MATÉRIA. É MUITO ÚTIL PARA DEPOIS DE SE TER RECEBIDO O SANTÍSSIMO SACRAMENTO.

  1. Nesta petição, «de cada dia», parece dizer que é «para sempre». Estando eu a pensar porque razão, depois do Senhor ter dito «cada dia», tornou a dizer «nos dai hoje, Senhor», pareceu-me a mim que, o Ele ser nosso cada dia, é porque O possuímos aqui na terra e o possuiremos também no Céu,...

CAPÍTULO 35. ACABA A MATÉRIA COMEÇADA COM UMA EXCLAMAÇÃO AO PAI ETERNO.

  1. Tenho-me alongado tanto nisto, embora também tenha falado na oração de recolhimento, do muito que importa este entrarmos a sós com Deus, por ser coisa tão importante. E quando não comungardes, filhas, e ouvirdes Missa, podeis comungar espiritualmente, que é de grandíssimo proveito, e...

CAPÍTULO 36. TRATA DESTAS PALAVRAS DO PAI NOSSO: «DIMITTE NOBIS DEBITA NOSTRA».

  1. Vendo pois o nosso bom Mestre que, com este manjar celestial, tudo nos é fácil, a não ser por nossa culpa, e que podemos cumprir bem o que dissemos ao Pai: que se faça em nós a Sua vontade, dizLhe agora que nos perdoe as nossas culpas, pois nós também perdoamos. E assim, prosseguindo tia...

CAPÍTULO 37. FALA DA EXCELÊNCIA DESTA ORAÇÃO DO «PATER NOSTER» E COMO ACHAREMOS NELA CONSOLAÇÃO DE MUITAS MANEIRAS.

  1. É coisa para louvar muito ao Senhor ver como é subida em perfeição esta oração evangélica, no que bem mostra ser ordenada por tão bom Mestre, e assim podemos, filhas, cada uma de nós, tomá-la a seu propósito. Pasmo de ver como, em tão poucas palavras, está encerrada toda a contemplação e...

CAPÍTULO 38. TRATA DA GRANDE NECESSIDADE QUE TEMOS DE ,SUPLICAR AO PAI ETERNO QUE NOS CONCEDA O QUE LHE PEDIMOS NESTAS PALAVRAS: «ET NE NOS INDUCAS IN TENTATIONEM, SED LIBERA NOS A MALO» E DECLARA ALGUMAS TENTAÇÕES.

  1. Grandes coisas temos aqui, irmãs, para pensar e entender, pois as pedimos. Agora notai: tenho por muito certo que, os que chegam à perfeição, não pedem ao Senhor os livre de trabalhos, nem das tentações, nem de perseguições e pelejas; mas antes os desejam, pedem e amam, como disse há...

CAPÍTULO 39. PROSSEGUE A MESMA MATÉRIA E DÁ AVISOS SOBRE TENTAÇÕES, SENDO ALGUMAS DE DIVERSOS MODOS, E PROPÕE REMÉDIOS PARA QUE SE POSSAM LIVRAR DELAS.

  1. Pois, guardai-vos também, filhas, de umas humildades que infunde o demónio com grande inquietação sobre a gravidade de nossos pecados. Costuma apertar aqui de muitas maneiras, até apartar a alma das comunhões e de ter oração particular (por o não merecerem, sugere-lhes aqui o demónio); e,...

CAPÍTULO 40. DIZ COMO, PROCURANDO ANDAR SEMPRE EM AMOR E TEMOR DE DEUS, IREMOS SEGURAS ENTRE TANTAS TENTAÇÕES.

  1. Pois, nosso bom Mestre, dai-nos algum remédio para vivermos sem muito sobressalto em guerra tão perigosa. Aquele que podemos ter, filhas, e por Sua Majestade nos foi dado, é «amor e temor». O amor nos fará apressar o passo; o temor nos fará ir vendo onde pomos os pés para não cair em...

Capítulos 41 e 42

CAPÍTULO 41. FALA DO TEMOR DE DEUS E COMO NOS HAVEMOS DE GUARDAR DOS PECADOS VENIAIS.

  1. Quanto me alonguei! Mas não tanto como quisera, porque é coisa saborosa falar de tal amor. E que será tê-lo?' O Senhor mo dê, por quem Sua Majestade é. Venhamos agora ao temor de Deus. É coisa também muito conhecida daquele que o tem, e dos que tratam com Ele. Quero, no entanto, que...

CAPÍTULO 42. TRATA DESTAS ÚLTIMAS PALAVRAS DO PATER NOSTER: «SED LIBERA NOS A MALO. AMEN». MAS LIVRAI-NOS DO MAL. AMEN

  1. Parece-me que tem razão o bom Jesus ao pedir isto para Si, porque bem vemos como estava cansado desta vida, quando na Ceia disse a Seus Apóstolos: «Desejei com grande desejo comer convosco esta ceia», que era a última da Sua vida. Por aí se vê que cansado já devia estar de viver. agora...