CONCLUSÃO

CONCLUSÃO

O ESPÍRITO SANTO, MESTRE INTERIOR

 

72. Ao terminar esta Exortação Apostólica, o olhar do coração volta-se para Aquele que é o princípio inspirador de todas as actividades catequéticas e daqueles que as realizam: o Espírito do Pai e do Filho — o Espírito Santo. Ao descrever a missão que este Espírito havia de ter na Igreja, Cristo usa estas palavras significativas: «Ele ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que eu vos disse». E acrescenta: «Quando vier o Espírito da Verdade, ele guiar-vos-á por toda a verdade..., e anunciar-vos-á as coisas vindouras».

 

O Espírito Santo, por conseguinte, é prometido à Igreja e a cada um dos fiéis como Mestre interior, que no segredo da consciência e do coração faz compreender aquilo que se tinha ouvido, sem se estar ainda em condições de o captar. «O Espírito Santo instrui doravante os fiéis—dizia a este propósito Santo Agostinho—segundo a capacidade espiritual de cada um. E acende nos seus corações um desejo cada vez mais vivo, à medida que cada um vai progredindo nesta caridade, que o leva a amar aquilo que já conhece e a desejar o que ainda não conhece».

 

Além disso, é também missão do Espírito Santo transformar os discípulos em testemunhas de Cristo: «Ele dará testemunho de mim» e «vós também dareis testemunho de mim».

 

Mas ainda há mais. Para São Paulo, que sintetiza neste ponto uma teologia latente em todo o Novo Testamento, é «todo o ser cristão». toda a vida cristã, vida nova dos filhos de Deus, que é unia vida segundo o Espírito. Só o Espírito nos permite dizer a Deus: «Abbá, Pai». Sem o Espírito não podemos dizer: «Jesus é o Senhor». E do Espírito, enfim, vêm todos os carismas que edificam a Igreja, comunidade dos cristãos. E neste sentido que São Paulo dá a todos os discípulos de Cristo esta norma: «Procurai estar repletos do Espírito». E Santo Agostinho é bem explícito: «O facto de acreditar e o facto de agir rectamente são coisas muito nossas, em razão da escolha livre da nossa vontade; e no entanto, uma e outra coisa são um dom, proveniente do Espírito de fé e de caridade».

 

A catequese, que é crescimento na fé e amadurecimento da vida cristã em ordem à sua plenitude é, por consequência, obra do Espírito Santo, obra que só Ele pode suscitar e manter na Igreja.

 

Tal verificação, originada da leitura dos textos acima citados e de numerosas outras passagens do Novo Testamento, leva-nos a formar duas convicções.

 

Antes de mais, a convicção de que a Igreja, ao realizar a sua missão de catequizar — como de resto cada um dos cristãos que em Igreja e em nome da Igreja se aplica a essa missão — deve estar. bem consciente de agir como instrumento vivo e dócil do Espírito Santo. Por isso, invocar incessantemente esse Espírito, estar em comunhão com Ele, esforçar-se por conhecer as suas autênticas inspirações, tem de ser a atitude da Igreja que ensina, bem como de todo e qualquer catequista.

 

Depois — uma vez que «estamos a viver na Igreja um momento privilegiado do Espírito», como notava o meu Predecessor Paulo VI na sua Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi — a convicção de que o desejo profundo de compreender melhor a acção do Espírito e de se confiar mais a Ele deve provocar um despertar catequético. A «renovação no Espírito», efectivamente, será autêntica e terá na Igreja verdadeira fecundidade, não tanto na medida em que ela suscitar carismas extraordinários, mas na medida em que levar o maior número de fiéis, pelos caminhos da vida de todos os dias, ao esforço humilde, paciente e perseverante de conhecerem cada vez melhor o mistério de Cristo e darem testemunho dele.

 

Invoco pois sobre a Igreja catequizante, esse Espírito do Pai e do Filho e suplico-Lhe que renove na mesma Igreja o dinamismo catequético.

 

MARIA, MÃE E MODELO DO DISCÍPULO

 

73. E que a Virgem Santíssima do Pentecostes nos alcance também Ela, pela sua intercessão, tudo isto! Por vocação singular, viu o seu Filho Jesus crescer «em sabedoria, em estatura e em graça». Sobre os seus joelhos e ao ouvi-lo durante a vida oculta de Nazaré, esse Filho, o Unigénito do Pai «pleno de graça e de verdade», foi por um lado formado por Ela no conhecimento humano das Escrituras e da história do desígnio de Deus sobre o seu Povo, assim como na adoração do Pai. Por outro lado, Ela foi a primeira dos seus discípulos: primeira quanto ao tempo, porque já quando se dá o encontro no Templo Ela recebe do seu Filho adolescente lições que conserva no seu coração; e a primeira, sobretudo, em grau de profundidade porque ninguém foi assim «ensinado por Deus».

 

«Mãe e discípula ao mesmo tempo», dizia a respeito d'Ela Santo Agostinho, e acrescentava com ousadia que ser discípula para Ela foi mais importante do que ser Mãe. Não foi sem razão, pois, que na Sala sinodal se disse de Maria que Ela é «um catecismo vivo», «mãe e modelo dos catequistas».

 

Que a presença do Espírito Santo, pois, pela intercessão de Maria, possa alcançar à Igreja um impulso sem precedentes na actividade catequética que para ela é essencial! A Igreja desempenhar-se-á então de modo eficaz, neste tempo de graça, da missão inalienável e universal recebida do seu Senhor: «Ide e ensinai todas as gentes».

 

Com a minha Bênção Apostólica!

 

Dado em Roma, junto de São Pedro, aos 16 de Outubro de 1979, ano segundo do meu Pontificado.

 

JOÃO PAULO II

 

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