VI ALGUMAS VIAS E MEIOS PARA A CATEQUESE

VI ALGUMAS VIAS E MEIOS PARA A CATEQUESE

MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

 

46. Desde o ensino oral dos Apóstolos e das Cartas que circulavam entre as Igrejas, até aos meios mais modernos, a catequese nunca deixou de procurar vias e meios adaptados para se desempenhar da sua missão, com a participação activa das comunidades, sob o impulso dos Pastores. E, nesta linha, esse esforço tem de continuar.

 

Espontaneamente vêm-me ao pensamento as grandes possibilidades que oferecem os meios de comunicação social e os meios de comunicação de grupos: televisão, rádio, imprensa, discos, fitas magnéticas, enfim, todos os meios audio-visuais. Os esforços que já foram feitos nestes domínios são de molde a dar-nos as melhores esperanças. A experiência demonstra, por exemplo, a repercussão que pode ter um ensino radiofónico ou televisivo que saiba conjugar bem uma expressão estética de valor com uma rigorosa fidelidade ao Magistério. Mas dado que a Igreja dispõe nesta altura de muitas ocasiões para tratar destes problemas — inclusive os «Dias» dos meios de comunicação social — não obstante a sua importância capital, não será necessário estar aqui a alongar-me agora sobre este ponto.

 

MÚLTIPLOS LUGARES, MOVIMENTOS OU REUNIÕES A VALORIZAR

 

47. Penso, de igual modo, em diversos movimentos de grande alcance, nos quais tem pleno cabimento uma catequese: por exemplo, as peregrinações diocesanas, regionais ou nacionais, que certamente lucrarão se forem centradas num tema criteriosamente escolhido, a partir da vida de Jesus, de Nossa Senhora e dos Santos; depois, as missões tradicionais, abandonadas muitas vezes precocemente e que são insubstituíveis para uma renovação periódica e vigorosa da vida cristã: é necessário retomá-las e rejuvenescê-las; de igual modo, os círculos bíblicos que devem ir além da simples exegese, a fim de fazerem viver a Palavra de Deus; e por fim, as reuniões das comunidades eclesiais de base, na medida em que estas corresponderem aos critérios expostos na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi. Podem-se mencionar ainda os agrupamentos de jovens, que nalgumas partes, sob diversas denominações e com diferentes fisionomias — mas com idêntica finalidade, qual é a de fazerem com que se conheça Jesus Cristo e se viva o Evangelho — se multiplicam e florescem como numa primavera muito alentadora para a Igreja: grupos de acção católica, grupos caritativos, grupos de oração, grupos de reflexão cristã, etc. Tais grupos suscitam grandes esperanças para a Igreja de amanhã. No entanto, em nome de Jesus Cristo, peço ardentemente aos jovens que os compõem, aos responsáveis por eles e aos sacerdotes que lhes consagram o melhor do seu ministério: nunca permitais, custe o que custar, que a estes grupos — ocasiões privilegiadas de encontro, ricos de tantos valores de amizade e de solidariedade entre os jovens, de alegria, de entusiasmo e de reflexão sobre os acontecimentos e as coisas — falte um estudo sério da doutrina cristã. Sem isto, corriam o risco — e tal perigo, infelizmente, tem-se verificado muitas vezes — de decepcionar os que a eles aderem e de decepcionar a própria Igreja.

 

O esforço catequético que é possível nestas diversas situações, e ainda em muitas outras, tem tanto maiores possibilidades de ser bem acolhido e de dar os seus frutos, quanto mais respeitar a sua natureza própria. Ao inserir-se em tais situações de maneira apropriada, tal esforço há-de procurar pôr em acção aquela diversidade e complementaridade de achegas que lhe permitam desenvolver toda a riqueza do seu conceito, com a tríplice dimensão de palavra, de memória e de testemunho — de doutrina, de celebração e de compromisso na vida — que a Mensagem do Sínodo ao Povo de Deus pôs em evidência.

 

A HOMILIA

 

48. Esta observação torna-se mais válida ainda quando a catequese é feita dentro do enquadramento litúrgico, e especialmente na assembleia eucarística: respeitando a especificidade e o ritmo próprio de tal enquadramento, a homilia retoma o itinerário da fé proposto na catequese e leva-o ao seu complemento natural; ao mesmo tempo, impulsiona os discípulos do Senhor a retomarem cada dia o seu itinerário espiritual na verdade, na adoração e na acção de graças. Neste sentido, pode-se dizer que também a pedagogia da fé tem a sua fonte e o seu complemento final na Eucaristia, ao longo do ciclo completo do ano litúrgico. A pregação, centrada nos textos bíblicos, deverá então, à sua maneira, dar azo a que os fiéis se familiarizem com o conjunto dos mistérios da fé e das normas da vida cristã. Há-de ser dispensada uma grande atenção à homilia: esta não deve ser muito longa nem demasiado breve, sempre cuidadosamente preparada, substanciosa e adaptada, e reservada aos ministros ordenados. Deverá ser feita em todas as celebrações dominicais e festivas da Eucaristia, e também na celebração dos Baptismos, das liturgias penitenciais, dos Matrimónios e dos funerais. É um dos grandes benefícios da renovação litúrgica.

 

LIVROS CATEQUÉTICOS

 

49. Neste conjunto de vias e de meios — toda a actividade da Igreja, aliás, tem dimensão catequética — as obras catequéticas, longe de perderem a sua importância essencial, adquirem nova relevância. Um dos aspectos mais salientes da renovação da catequese nos nossos dias consiste na remodelação e na multiplicação de livros catequéticos, mais ou menos por toda a parte. Têm visto a luz da publicidade, realmente, obras numerosas. E têm tido grande êxito, constituindo uma verdadeira riqueza ao serviço do ensino da catequese. Contudo é necessário reconhecer com honestidade e humildade, que tal florescência e riqueza também deu azo a experiências e publicações equívocas, nocivas para os jovens e para a vida da Igreja. Com muita frequência, aqui e além, com a preocupação de se encontrar a linguagem mais adaptada ou de seguir modas referentes a métodos pedagógicos, algumas obras catequéticas desorientam os jovens e até mesmo os adultos, quer pela omissão, consciente ou inconsciente, de elementos essenciais para a fé da Igreja, quer pela importância excessiva dada a certos temas com prejuízo de outros, quer sobretudo por uma perspectiva de conjunto demasiado horizontalista, não conforme ao ensino do Magistério da Igreja.

 

Não basta, pois, que se multipliquem os livros de catequese. Para que estes correspondam à sua finalidade são indispensáveis condições, como por exemplo:

 

— que sejam adaptados à vida concreta da geração a que são destinados, tendo bem presentes as suas inquietudes e interrogações, bem como as suas lutas e esperanças ;

 

— que se esforcem por encontrar a linguagem compreensível a essa mesma geração;

 

— que se esmerem em ser a expressão de toda a mensagem de Cristo e da sua Igreja, sem nada descurar ou deformar, procurando expô-la inteiramente e segundo um centro de referência e uma estrutura que façam ressaltar o essencial;

 

— que intentem verdadeiramente provocar maior conhecimento dos mistérios de Cristo naqueles que deles se servirem, em vista de uma autêntica conversão e de uma vida mais conforme à vontade de Deus.

 

CATECISMOS

 

50. Todos aqueles que assumem a pesada tarefa de preparar tais instrumentos para a catequese, sobretudo os textos de catecismos, não o podem fazer sem a aprovação dos Pastores que tenham autoridade para a dar e sem se inspirarem, o mais de perto possível, no Directório Geral da Catequese, que continua a ser a norma a que referir-se.

 

A tal propósito, não posso deixar de dirigir vivo encorajamento às Conferências Episcopais do mundo inteiro: que elas tomem a iniciativa, com paciência mas com firme resolução, desse grande trabalho a ser realizado de acordo com a Sé Apóstólica, qual é o de preparar verdadeiros catecismos, fiéis aos conteúdos essenciais da Revelação e actualizados pelo que se refere ao método, em condições de educar para uma fé vigorosa as gerações cristãs dos tempos novos.

 

Esta breve menção de meios e vias para a catequese contemporânea não é exaustiva em relação à riqueza de proposições elaboradas pelos Padres do Sínodo. É motivo de conforto pensar que em cada nação se está a realizar actualmente preciosa colaboração em ordem a uma renovação mais orgânica e segura destes aspectos da catequese. Como se poderia duvidar das possibilidades que a Igreja tem de encontrar pessoas avisadas e competentes e meios adaptados para corresponder, com graça de Deus, às complexas exigências da comunicação com os homens do nosso tempo?

 

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