O DOCUMENTO DA IGREJA QUE DESMASCARA O REIKI
Linhas para avaliação do Reiki como uma terapia alternativa*
Comité de Doutrina da USCCB – 25 de Março de 2009
De tempos a tempos levantam-se questões acerca de terapias alternativas que estão disponíveis nos EU. Os Bispos são muitas vezes interrogados acerca de “qual a posição da Igreja sobre essas terapias?”. O Comité de doutrina da USCCB preparou este documento para auxiliar os bispos nas suas respostas.
I CURAR PELA GRAÇA DIVINA E A CURA ATRAVÉS DE PODERES NATURAIS
A Igreja reconhece dois modos de curar: a cura pela Graça Divina e a cura que utiliza os potenciais da natureza. A primeira, podemos remeter ao ministério de Cristo, que operou muitas curas físicas e que confiou aos seus discípulos a continuação desse ofício. Em fidelidade a essa delegação, desde o tempo dos Apóstolos a Igreja intercedeu pelos doentes através da invocação do nome do Senhor Jesus, pedindo a cura pelo poder do Espírito Santo, seja na forma do sacramento da imposição das mãos e unção com óleo, seja pela simples oração pela cura, que frequentemente invoca os santos em seu auxílio. Em segundo lugar, a Igreja nunca considerou o rogo pela cura divina, a qual vem como um dom de Deus, como a exclusão do recurso aos meios naturais através da prática da medicina.[1] Junto com os seus sacramentos de cura e as várias orações para obtê-la, a Igreja tem uma longa história de cuidado com os doentes através desses meios. O sinal mais patente é o grande número de Hospitais Católicos […].
II REIKI E CURA
A) As origens e características básicas do Reiki
O Reiki é uma técnica de cura inventada no Japão no Séc. XIX por Mikao Usui, que era um estudante de textos Budistas.[2] De acordo com os ensinamentos do Reiki, a doença é causada por alguma forma de desordem ou desarmonia na “vida energética” de alguém. A prática do Reiki consiste em impor as mãos em certas posições no corpo do paciente para facilitar o fluir do Reiki, a “energia vital universal”, do praticante para o paciente. Existem numerosas formas de posicionar as mãos para os diferentes problemas. Os proponentes do Reiki afirmam que a prática não é a fonte de energia da cura, mas apenas um canal para tal.[3] Para se tornar um praticante, alguém deve receber a iniciação ou investidura de um Mestre. Esta cerimónia sintoniza o iniciado com a “energia vital universal” tornando-o capaz para servi-la e conduzi-la. Dizem que há diferentes níveis para tal (alguns ensinam que há quatro). Em níveis mais altos, consegue-se alegadamente canalizar a energia Reiki e operar a cura à distância, sem contacto físico.
B) Reiki como um meio natural de cura
Apesar dos proponentes do Reiki considerarem que não se trata de uma religião em si, mas uma técnica que poderá ser utilizada por pessoas de muitas tradições religiosas, a prática tem vários aspetos próprios a uma religião. O Reiki é frequentemente descrito como um tipo “espiritual” de cura, contrariamente aos meios comuns médicos que empregam meios físicos. Muita da literatura Reiki está preenchida com referências a Deus, à divindade, ao “poder divino da cura” e à “mente divina”. A fonte de energia vital é descrita como vinda diretamente de Deus, a “inteligência superior” ou a “divina consciência”. Ademais, as várias “investiduras” que o praticante de Reiki recebe do Mestre estão acompanhadas de “cerimónias sagradas” que envolvem a exposição e a contemplação de certos “símbolos sagrados” (que têm sido tradicionalmente mantidos secretos pelos mestres do Reiki). Além disso, o Reiki tem sido frequentemente descrito como um “modo de viver” e conta com uma lista de cinco preceitos estipulando condutas éticas.
Entretanto, há alguns praticantes do Reiki, principalmente enfermeiros, que tentam reduzir o Reiki a uma maneira natural de curar. Como um meio natural de cura, todavia, tornou-se objeto de desafio aos padrões científicos. É verdade que alguns meios de cura ainda não foram compreendidos e reconhecidos até agora pela ciência. O critério básico para julgar, entretanto, se algum deles deve ser particularmente considerado como um meio de cura, pertence à ciência.
De acordo com estes padrões, o Reiki tem falta de credibilidade científica. Não foi aceite pelos comités científicos e pelas comunidades médicas como uma terapia. Faltam credíveis estudos científicos que atestam a eficácia do Reiki, tal como uma explicação científica acerca da sua eficácia. A explicação acerca da eficácia do Reiki depende inteiramente de uma detalhada explicação do mundo permeado por essa “energia universal vital” que é objeto de manipulação pelo pensamento e vontade humanos. Os praticantes do Reiki afirmam que a sua prática permite alguém canalizar essa energia que está presente em todas as coisas. “Essa energia universal vital”, entretanto, é desconhecida pela ciência natural. Uma vez que a presença de tal energia não é observável pelos meios da ciência natural, a justificação para tais terapias tem de vir de algo que não é científico.
C) Reiki e o poder de cura de Cristo
8 Algumas pessoas tentaram identificar o Reiki como dom de cura reconhecido pelo cristianismo.[4] Elas estão enganadas. A diferença radical pode ser imediatamente reconhecida pelo fato de que, para os praticantes de Reiki, tal poder está na posse dos homens. Alguns querem evitar esta implicação e argumentam que não é diretamente o praticante que opera a cura, mas a energia Reiki direcionada pela divina consciência. Todavia, entre os cristãos permanece firme a doutrina de que o acesso à cura pela oração, pertence a Cristo como Senhor e Salvador, enquanto a essência do Reiki não é a oração, mas uma técnica que é transmitida pelo Mestre Reiki ao discípulo, uma técnica que uma vez administrada tenta realizar com eficácia os resultados previstos.[5] Alguns praticantes tentam cristianizar o Reiki adicionando preces a Cristo, mas isto não afeta a natureza essencial do Reiki. Por estas razões, o Reiki e outras técnicas similares não podem ser confundidas com aquilo que o cristianismo identifica como o poder de cura da Graça Divina.
A diferença entre o que o Cristianismo reconhece como cura pela Graça Divina e a terapia Reiki é ainda evidente nos termos básicos usados pelos proponentes do Reiki, que descrevem aquilo que acontece na terapia Reiki particularmente na “energia universal vital” que está sujeita a manipulações do natural poder humano do pensar e querer. De fato, esta visão universal tem origem em religiões orientais e tem um certo caráter monista e panteísta, e por si, a distinção entre mundo e Deus, tende a cair.[6] É constatado que os praticantes de Reiki têm dificuldade em distinguir entre o que pertence ao poder de Deus e aquele que pertence aos homens.
III CONCLUSÕES
A terapia Reiki não encontra base, seja na ciência natural, seja na crença cristã. Para um católico, acreditar na terapia Reiki, apresenta problemas insanáveis. Em termos de preocupação com a saúde física de qualquer um, o emprego de uma técnica que não tem base científica (até mesmo plausível) é geralmente imprudente.
Em termos da saúde espiritual, há perigos consideráveis. Para usar o Reiki, qualquer um deve ao menos aceitar de forma implícita elementos centrais da visão global que concerne a teoria Reiki, elementos que não pertencem à fé Cristã ou à ciência natural, e assim, um católico que colocasse a sua confiança no Reiki estaria a abraçar a superstição, uma terra de ninguém que não pertence quer à fé, quer à ciência.[7] A superstição corrompe a única adoração que se deve a Deus direcionando o sentimento religioso e a prática numa falsa direção.[8] Uma vez que algumas pessoas caem em superstições através da ignorância, é responsabilidade de todos os que ensinam em nome da Igreja eliminar a ignorância tanto quanto possível.
Uma vez que a terapia Reiki não é compatível com o ensinamento cristão ou científico, será inapropriado às instituições católicas, tais como os centros de saúde ou de espiritualidade católicos, ou qualquer um que represente a Igreja, tais como os capelães católicos, promover ou sustentar a terapia Reiki.
Traduzido do documento original (ver aqui) por P. José Victorino de Andrade
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* Documento original em: https://www.usccb.org/about/doctrine/publications/upload/evaluation-guidelines-finaltext-2009-03.pdf
[1] Ver Congregation for the Doctrine of the Faith, Instruction on Prayers for Healing (14 September 2000), I, 3. [..]
[2] Catecismo, n. 1508
[3] Loc. Cit.
[4] Também é dito que ele meramente descobriu uma antiga prática tibetana, mas faltam evidências para isto.
[5] Como veremos, as distinções entre a pessoa, o mundo e Deus tendem a colapsar no pensamento Reiki. Alguns professores explicam que alguém chega eventualmente à realização de si quando a universal energia vital e a pessoa são um, “nós somos força vital universal e tudo é energia, inclusive nós” (Libby Barnett and Maggie Chambers with Susan Davidson, Reiki Energy Medicine: Bringing Healing Touch into Home, Hospital, and Hospice [Rochester, Vt.: Healing Arts Press, 1996], p. 48; see also p. 102)
[6] Por exemplo, ver “Reiki and Christianity” at https://iarp.org/articles/Reiki_and_Christianity.htm and “Christian Reiki” at https://areikihealer.tripod.com/christianreiki.html e o site https://www.christianreiki.org.
[7] Os mestres de Reiki oferecem cursos de treinamento com vários níveis, serviços para os quais os professores requerem uma significativa remuneração financeira. O pupilo espera e o Mestre Reiki assegura que o investimento de tempo e dinheiro vai possibilitar a técnica que permitirá os resultados.
[8] Enquanto isto parece implícito no ensinamento do Reiki, alguns proponentes dizem claramente não haver distinção entre o eu e o Reiki. “Alinhamento entre o Eu e ser Reiki é um processo. Assim continuar-se-á a engajar neste processo que futuramente levará a uma evolução que poderá levar a sustentável reconhecimento de que tornar-se-á força universal vital” (The Reiki Healing Connection [Libby Barnett, M.S.W.], https://reikienergy.com/classes.htm, accessed 2/6/2008 [ênfase no original]). Diane Stein sintetiza o significado de alguns símbolos sagrados usados no Reiki como: “A divindade em mim saúda a divindade em ti”; “homem e Deus tornando-se um” (Essential Reiki Teaching Manual: A Companion Guide for Reiki Healers [Berkeley, Cal.: Crossing Press, 2007], pp. 129-31). Anne Charlish e Angela Robertshaw explicam que o mais alto grau do Reiki “marca a mudança do eu e do próprio para sentir-se um com a força energética vital universal” (Secrets of Reiki [New York, N.Y.: DK Publishing, 2001], p. 84).
FONTE: Retirado do Blog: https://aportesdaigreja.com/2019/04/08/o-documento-da-igreja-que-desmascara-e-condena-o-reiki/?fbclid=IwAR2aaKMji6WluVyjC6cMzhTg5vZTS3DjuKeZfpKriq9HSvikWYl-yV4TtNI