Não é por acaso que o Papa Francisco condenou mais do que uma vez a New Age e tudo o que deriva dela.* Num mundo em que deixamos de valorizar uma verdade externa, adogmático, de ideais ecológicos e pacifistas, onde o renascimento religioso, depois de um laicismo tiranizante e de um vazio espiritual jamais superado pelos bens temporais e pelas novas descobertas científicas, deixou os homens ainda mais permeáveis a espiritualidades confortantes e confortáveis, a Nova Era introduziu-se numa terra sequiosa e árida. Mas em vez de hidratar as almas sedentas de Deus, tem confundido ainda mais os fiéis com as suas doutrinas e práticas alheias e alienadoras das tradições e da fé monoteísta num Ocidente baralhado e anémico. A New Age ou Nova Era tem o seu nome a partir da sua pretensão de um novo tempo ou ordem mundial: a “passagem do Sol do signo Peixes para o de Aquário”, capaz então de destronar as visões religiosas do passado, para implantar “uma nova ordem mundial de concórdia e de luz”.[1] Pretende um Deus “não pessoal nem monoteísta”, que caracteriza o cristianismo, mas energia que parte da deusa-Mãe Terra. Uma nova religiosidade sem religiões, ou que irmana todas, pacifista, em harmonia com o cosmos. Uma nova era que sucede às religiões antigas, sem renunciar, entretanto, a uma mistura aliciante de todas, a teosofias modernas e a ideias panteístas (Deus é tudo e tudo é Deus). E assim o retorno ao Pan, ou seja, a integração no cosmos, a dissolução no nada após sucessiva reincarnação. A uma boa pitada de místicas orientais, juntam até um Cristo cósmico ou Energia, hoje chamado (ou evoluído, na conceção da New Age) Gaia, ou Mãe-Terra. Seguem-se também, em consequência, as emergentes ideologias feministas ou ecológicas. Multiplicam-se a meditação transcendental, índigos, cristais, regressões a vidas passadas e certas yogas. Novas formas budistas. Mestres espirituais, médiuns, gurus ou iluminados. E também as medicinas energéticas. E é neste sentido que se integra o Reiki: reconhecido pelos seus proponentes, escritores e especialistas como uma prática da Nova Era.[2]
Não é difícil de constatar que a Nova Era está em contradição com o Cristianismo que sempre rejeitou, por herança bíblica, a astrologia, e por isso um destino fatalista ditado pelos astros, ou a adoração da criação, uma vez que Deus não é tudo, o Criador está acima da criação; está presente na sua obra, mas não é a obra. O respeito e a responsabilidade por tudo o que foi criado não significa a adoração da Mãe-Terra ou da Natureza. Ademais, a reincarnação não é conciliável com a fé de um cristão porque nega a ressurreição de Cristo, primícias da nossa própria ressurreição, uma verdade de Fé professada pelos católicos quando rezam o Credo. A perfeição para o católico é a santidade, não é a desintegração no Cosmos, no Pan, mas visão e posse, visão de Deus, posse do Reino dos Céus, vida em plenitude e não regresso ao nada, existência na glória, não imanência no cosmos. O próprio Papa Francisco condenou essa espécie de gnósticismo individualista, assim como a sua introdução nos meios católicos.** Tão pouco se entende que uma cultura hodierna e uma reescrita da história tão crítica aos nossos descobrimentos, às missões e aos missionários de outrora, que condena uma fé imposta ou impingida a outros povos e culturas, esteja agora ela mesma a importar para a Europa (e o Ocidente em geral) religiões recém-criadas por gurus diversos com teosofias e místicas Orientais estranhas à nossa própria História, Religião e Cultura. E menos ainda que se queira integrar o Reiki na ciência, que ultimamente tem firmado um fosso cada vez maior relativamente à religião, como se fossem as energias da deusa Gaia compatíveis com a medicina, e assim entrar esta prática da New Age com plena cidadania nos hospitais que se dizem laicos, muitas vezes hostis ou adversos às capelanias religiosas e à Fé da esmagadora maioria dos pacientes e utentes do Serviço Nacional de Saúde, mas benevolentes a estas espiritualidades religiosas orientais cheias de chakras, budismo, panteísmo, esoterismo, gnosticismo e teosofias. Um mix religioso perigoso para o senso comum.
Um artigo recente do Jornal Universitário do Porto situou o Reiki entre as “pseudoterapias”, um perigo e uma “fraude à saúde”. Parte de um estudo prático onde sujeitaram pacientes a um verdadeiro e a um falso mestre de Reiki, obtendo os mesmos resultados de uns e de outros, ou seja, efeito “placebo”.[3] Um site insuspeito como a Wikipedia, na sua entrada sobre este movimento religioso, alicerçada por múltiplas citações, lembra que “o Reiki não é reconhecido pela medicina e nem pela ciência. Os benefícios do Reiki nos cuidados de saúde não estão confirmados cientificamente”. Alerta, a partir de testemunhos médicos para o “risco dos pacientes evitarem ou atrasarem tratamentos para doenças graves, clinicamente comprovados, e que podem ter sua condição agravada por acreditarem no Reiki” e incentiva a procurar fontes médicas seguras sobre esta prática. Desmentem inclusive um mito da New Age: “Há uma divulgação errada em sites e blogs de que o Reiki é reconhecido como terapia alternativa complementar pela OMS (Organização Mundial de Saúde). A OMS nunca reconheceu o Reiki oficialmente”.[4] Não se compreende, portanto, a sua presença em sérias instituições médicas, e os cartazes distribuídos pelas paredes dos hospitais, aproveitando-se do desespero e da fragilidade das pessoas, para induzi-las a esta prática e posteriormente fazê-las ingressar nela. Pois não se trata de um mero embuste médico, mas de uma ramificação da Nova Era, um movimento cultural-religioso catalogado pela maior parte dos autores neutros como uma nova forma de religião, ou uma seita.[5] Também os Bispos Norte-Americanos redigiram um documento sobre a incompatibilidade e os riscos oferecidos pelo Reiki, estipulando a sua proibição nas instituições de saúde católicas ou a sua promoção por pessoas que representem a Igreja.[6] A Santa Sé emitiu igualmente dois documentos, um da Congregação para a Doutrina da Fé (1989), sobre alguns aspetos da meditação cristã, e outro mais recente do Pontifício Conselho para a Cultura e para o Diálogo Inter-religioso (2003) sobre a New Age, e indiretamente sobre o Reiki, com uma extensa bibliografia, que revela uma vez mais a total incompatibilidade com o Cristianismo.
Ademais, o Reiki não é tão inocente como parece. À medida que a pessoa vai adentrando, recebe conhecimentos revelados somente aos iniciados e entrosados mediante o grau que vão atingindo. Um gnosticismo que, se é escondido ao público em geral, tem garantidamente segredos comprometedores. Ademais mexe com energias que, se não vêm de Deus, alguma ligação ao preternatural têm. Pelo número de experimentados sacerdotes exorcistas que têm alertado para pessoas com sérios problemas espirituais depois de práticas de Reiki, bem se pode imaginar a quem são abertas as portas da alma e de onde vêm as ditas energias. O impressionante livro recentemente publicado, na sua segunda edição, de Aldina Cardeal, testemunha a libertação de uma portuguesa, submetida a múltiplos exorcismos, após uma vida entre práticas ligadas à New Age, entre elas o Reiki e os incríveis problemas espirituais e tormentos pelos quais passou, inclusive sem um diagnóstico médico e psiquiátrico preciso e eficaz. Chegaram a medicá-la para a esquizofrenia, um problema que nunca teve.[7] O seu testemunho é impressionante e merece uma leitura dos mais incrédulos. Definitivamente, um cristão não pode aderir ao Reiki na sua doutrina e na sua prática. Isso contradiz a Fé em Cristo e a condenação destas práticas pela Bíblia. São múltiplos os malefícios da New Age nas suas ideologias, cultura religiosa e prática perniciosa. Conforme o recentemente falecido cardeal Daneels, a Nova Era “enfrenta diretamente o cristianismo”, e pela sua expansão, mesmo entre os católicos, “constitui um grande desafio”.[8] Não é uma prática inocente nem ingénua, mas extremamente perigosa, para a saúde espiritual e física. Jesus, como afirmou o Papa Francisco, não é “profeta new age”.*** Cuidado com aqueles que querem desfigurá-Lo. “Acautelai-vos”, pois, “dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes” (Mt 7, 15-16).
P. Dr. José Victorino de Andrade
Conheça o documento da Igreja que desmascara o Reiki traduzido para o português aqui.
Ver porque os líderes religiosos na sua esmagadora maioria são contrários ao sincretismo a nível da doutrina e da prática religiosa em:
Não podeis servir a dois senhores…
Ver outros artigos sobre as superstições e as novas formas de religião e seitas em:
Alerta para seitas e outras maleitas
____________________________
Citações do Papa Francisco:
* https://www.infobae.com/2013/07/05/718783-que-es-la-new-age-y-que-es-condenada-el-papa-francisco/
*** https://tudonews.com.br/papa-francisco-diz-que-jesus-nao-e-profeta-new-age/
Outras citações de autores diversos:
[1] As citações neste parágrafo são de BOSCH, Juan. Para conhecer AS SEITAS.Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1995. p. 126-127. Algumas ideias esparsas e confirmações da primeira obra citada também em MARDONES, José María. Las nuevas formas de la religion: La reconfiguración postcristiana de la religión. Estella: Verbo Divino, 1994.
[2] A ideia do Reiki como uma prática da Nova Era, entre outras práticas, é reconhecida e descrita por um livro da especialidade dos seus proponentes: EDWARDS, Marc. Reiki, Yoga, Meditation & Yagyas: New Age Practices: Techniques for Living in the new millennium. USA: Eslibris, 2005.
[3] Disponível em: https://www.juponline.pt/ciencia-saude/artigo/29719/pseudoterapias-fraude-saude.aspx Última consulta 31 mar. 2019.
[4] Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Reiki Última consulta 31 mar. 2019.
[5] Ver BOSCH ou MORDONES, Op cit.
[6] GUIDELINES FOR EVALUATING REIKI AS AN ALTERNATIVE THERAPY. Committee on Doctrine United States Conference of Catholic Bishops, 25 mar. 2009. Original em: https://www.usccb.org/about/doctrine/publications/upload/evaluation-guidelines-finaltext-2009-03.pdf
[7] CARDEAL, Aldina. Jesus de Nazaré resgatou-me. 2ª ed. Tecto de Nuvens, 2016.
[8] Apud BOSCH, Juan. Para conhecer AS SEITAS. Coimbra: Gráfica de Coimbra, 1995. p. 127.